A Glória do Amor - Barbara Cartland - E-Book

A Glória do Amor E-Book

Barbara Cartland

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Beschreibung

"Você é uma jovem muito sortuda! Você irá casar-se muito em breve com Lord Waltingham! Disse o padrasto de Daniela Colwyn anunciando-lhe que iria casar-se com o seu amigo, a quem ele presava por ser rico e recatado. Daniela Colwyn ouviu, com horror, as palavras do seu padrasto, que iria se casar com um homem que tinha idade para ser eu pai e a quem ela desprezava. Sem pensar, juntou uns quantos pertences e fugiu de casa. Desprotegida, sem dinheiro ou amigos que a socorressem, Daniela viu-se forçada a integrar um grupo de teatro, substituindo uma das cantoras das Belles, que se encontrava doente, e que pertencia a Basil Banks show. Three Belles, espetáculo de Music Hall, iria ao Castelo do Conde de Huntingford alegrar uma festa exclusivamente masculina. Daniela, cantou, com tanta intensidade e emoção, transmitindo na sua performance, rara tristeza e solidão, que o Conde ficou perplexo e arrebatado por ela. Imediatamente se declarou, oferecendo-lhe mais do que amor, a quem estava só no mundo e sem destino seguro. Que iria ela fazer perante este comportamento do Conde? Ela estava presa a uma teia de mentiras e a uma armadilha que não sabia como iria sair…

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Seitenzahl: 160

Veröffentlichungsjahr: 2022

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A GLÓRIA DO AMOR

Barbara Cartland

Barbara Cartland Ebooks Ltd

Esta Edição © 2022

Título Original: “The Earl rings a Belle”

Direitos Reservados - Cartland Promotions 2022

Capa & Design Gráfico M-Y Books

NOTA DA AUTORA

Nos tempos medievais era costume que acrobatas e músicos divertissem os nobres em suas festas.

Os menestréis viajavam de cidade em cidade; levando notícias de vitórias ou derrotas entre os clãs.

Em Londres existiam os famosos Jardins do Prazer. Apenas na grande Londres eram mais de duzentos. Entre eles, os Jardins Vauxhall tornaram-se o ponto de encontro favorito dos boêmios e libertinos da época.

Por volta de 1820, nas inúmeras tavernas como a Coal Holer, Cider e Cider Cellars, cantoras e dançarinas executavam shows de strip-tease, que se denominavam «poses plásticas».

No ano de 1860 o local mais importante era o restaurante Evans, em Covent Garden.

Via de regra, os shows eram substituídos a cada semana e daí surgiram os Music Halls, onde as mesas foram trocadas por assentos.

Os collants foram inicialmente introduzidos na América em meados de 1850, causando protestos de horror. Considerados imorais e escandalosos, acabaram condenados.

O protesto público foi forte e duradouro. Os collants tornaram-se sinônimos de pecado.

Quando chegaram à Europa, não se permitiu que as mulheres que o usavam se movimentassem em cena.

Não é necessário dizer que nenhuma mulher, que se considerasse uma Lady, o usou alguma vez.

CAPÍTULO I 1869

Daniela sentia-se feliz ao chegar em casa. Voltava de um adorável passeio a cavalo pelo parque.

Nada, ela pensava, poderia ser mais lindo do que os narcisos florescendo sob as árvores, e as prímulas e as violetas se mesclando entre o musgo.

Quando ia entrando na casa pela porta principal, o mordomo veio-lhe ao encontro.

—Sir Marcus deseja falar-lhe, Srta. Daniela.

Daniela estremeceu involuntariamente.

Tentava imaginar o que poderia ter feito para provocar o desagrado de seu padrasto...

Deveria ser algo importante ou ele não teria dado ordem ao criado para chamá-la. Sabia que deveria estar esperando-a em seu estúdio. Daniela sempre associava aquela sala com algum tipo de problema.

Todas as vezes que Sir Marcus queria chamar a atenção de algum empregado ou dela própria, ele usava aquele local.

Esperava que não fosse nada muito sério, pois gostava do padrasto porque ele fazia sua mãe feliz.

Quando o Capitão Angus Colwyn naufragara com seu navio durante uma violenta e incomum tempestade na baía de Biscaia, sua esposa sofrera muito. Custou tanto a se recuperar, que Daniela chegou a pensar que ela o seguiria para o outro mundo.

Além do fato de adorar o marido e não suportar sua perda, ela ficara praticamente na miséria.

O soldo de um Capitão naval era baixo e a pensão que foi destinada à viúva e à filha era ainda menor.

—Não sei o que será de nós, Daniela— a mãe lhe dissera entre lágrimas.

—Daremos um jeito— Daniela afirmara—, papai detestaria vê-la chorar e adoecer.

A Sra. Colwyn precisou reunir uma enorme coragem para enfrentar a situação e amparar a filha.

Amava-a e sabia que ela se tornaria uma linda mulher. Pensava com frequência que Daniela merecia muito mais do que viver numa casa alugada num porto marítimo.

Havia poucas residências confortáveis em lugares como aquele, e as pessoas que lá viviam não se sentiam particularmente interessadas por um Capitão do mar e sua esposa.

A família da Sra. Colwyn vivia em Northumberland...

Era filha de um popular e respeitado proprietário rural.

Membro de uma família grande e importante, ela pudera participar de inúmeras festas e bailes. Embora nunca houvesse sido formalmente apresentada à Rainha, ela tivera a possibilidade de conhecer muita gente da sociedade.

Por ser dona de uma grande beleza, o pai sempre julgara que ela faria um bom casamento, de preferência com um de seus ricos e distintos vizinhos.

Infelizmente para ele, Mary Acton, como ela se chamava naquela época, conheceu o Capitão Angus Colwyn em uma visita ao Hall, onde se realizara um grande baile.

No momento em que a viu, o Capitão se apaixonou perdidamente pela primeira vez em sua vida.

Apesar de todos os protestos do pai, Mary se casou com o Capitão antes que ele tivesse de voltar ao mar.

Decidiram mudar-se para o sul, de forma que ela pudesse esperá-lo em qualquer um dos portos em que fosse escalado para ancorar.

A Sra. Colwyn e Daniela estavam morando em Portsmouth quando receberam a notícia da morte do Capitão.

Haviam alugado uma pequena casa mobiliada provisoriamente, pois de tempos em tempos eram solicitados a se mudarem para outras partes da costa.

Após a morte do marido, a Sra. Colwyn sentiu-se incapaz de continuar vivendo próxima ao mar.

Como poderia ficar observando os navios se aproximarem do porto, sabendo que nenhum deles estaria lhe trazendo o marido amado?

Resolvera mudar-se, portanto, para Worcestershire.

Não havia uma razão especial para a escolha, a não ser a informação que obtivera de que o custo de vida era barato naquela cidade. Alugaram uma casa de madeira em estilo elizabetano, pequena mas atraente em sua pintura contrastante de branco e preto.

Localizava-se nos arredores de um bonito vilarejo, onde rapidamente fizeram amigos.

Foi obra do acaso o fato de a Sra. Colwyn travar amizade com o Maioral de Foxhounds, o muito distinto Conde de Coventry.

Por ela ser uma mulher muito bonita e bem-educada, o Conde insistira em lhe emprestar seus cavalos para que pudesse passear e participar das caçadas de Crome Pack.

O Conde e sua esposa costumavam convidar a Sra. Colwyn com frequência para suas festas.

Ela sempre aguardava essas ocasiões especiais com prazer por representarem um escape a sua existência rotineira.

Foi em uma festa dada em comemoração a uma exibição de flores, que ela conheceu Sir Marcus Grayson.

Assim como Angus Colwyn, ele se apaixonou no momento em que a viu.

Com cerca de cinquenta e cinco anos de idade, ele tinha certeza de que nunca mais se casaria; até conhecer Mary.

Sua condição de viúvo durava mais de dez anos.

Não pudera resistir, entretanto, a Mary Colwyn.

Antes mesmo que ela pudesse pensar nele como pretendente, ele a pedira em casamento.

Mary Colwyn ainda se ressentia da perda do marido.

Pensava que nunca seria capaz de entregar o coração a outro homem e seu primeiro impulso foi recusar o pedido.

Mas, como Sir Marcus insistia em cortejá-la, ela começou a pensar não apenas nela própria, mas na filha.

Embora tivesse a felicidade de contar com a amizade dos Coventry, eles não tinham filhos da idade de Daniela.

Nunca haviam sugerido que Mary Colwyn levasse a filha a qualquer das festividades oferecidas por eles.

Todas as vezes que falava a respeito de Daniela com a Condessa, percebia que ela não se interessava pela menina.

Sir Marcus era um homem rico e ilustre.

Quinto Baronete de uma linhagem, ele gostava de descrever a Mary a casa magnífica que possuía no norte de Hertfordshire.

Tinha um orgulho imenso de sua propriedade.

Ao mesmo tempo, costumava passar boa parte de seu tempo em Londres, onde era requisitado por todos os grandes anfitriões.

Ao menos duas ou três vezes por ano era convidado pela Rainha a visitar o Castelo de Windsor.

Mary Colwyn olhou para a filha e considerou que, além de muitas outras coisas, a educação que podia lhe proporcionar não era boa como deveria ser.

Como poderia ter contratado professores, tais como os que tivera quando jovem?

Os professores haviam-lhe dado um nível de educação igual ao que seus irmãos receberam em Eton e Oxford.

Por amor à filha, portanto, ela sucumbira às súplicas de Sir Marcus.

Feliz por ter sido aceito, o Baronete insistiu em que se casassem imediatamente.

A cerimônia foi simples e quase secreta.

Sir Marcus não queria que seus amigos comentassem ou criticassem sua escolha, por isso preferiu não convidar ninguém.

Nem sequer Daniela.

—Quero-a só para mim— Sir Marcus confessara à noiva—, e se devo ser o homem mais feliz da terra, o que acredito, não dividirei minha felicidade com ninguém.

Logo após a cerimônia, partiram para a viagem de núpcias.

Daniela fora matriculada no melhor internato para moças que havia em Londres.

Ali, estudou por um ano.

Quando chegaram as férias, soube que deveria partir para Florença, onde haveria um curso especial.

Suspeitava que a viagem fora arranjada pelo padrasto, que não a desejava em sua casa.

Por sempre ter lhe fascinado a ideia de viajar, não se sentiu infeliz.

Ao mesmo tempo detestava ter de se afastar da mãe.

—Eu te adoro, mamãe!— ela dissera com lágrimas nos olhos—, sinto muito sua falta! Gostaria de poder estar sempre ao seu lado, como nos tempos em que papai era vivo.

—Eu sei, querida— Mary Grayson respondera—, mas seu padrasto é muito ciumento, quando se trata de dividir minha atenção com outra pessoa.

—Mas a senhora também é minha— protestara Daniela—, e eu entrei em sua vida primeiro do que ele!

Mary Grayson sorriu com ternura.

Seus olhos brilhavam de emoção.

—Sinto exatamente o mesmo que você, meu tesouro— ela respondera—, mas tenho de fazer o que seu padrasto quer e se ele lhe proporciona a melhor educação que uma moça poderia ter, você deveria demonstrar sua gratidão.

—Eu lhe sou grata— concordou Daniela—, mas gostaria de ir para casa durante as férias. Se for para Florença, como ele quer, ficarei um ano e meio sem poder vê-la...

A voz de Daniela tornou-se quase inaudível nas últimas palavras e Lady Grayson atraiu-a para seus braços, apertando-a com força.

—Quando você crescer as coisas serão diferentes— a mãe procurou consolá-la—, você terá muitos amigos, o tipo de amigos que sempre sonhei que um dia pudesse ter... e seu padrasto prometeu-me que lhe oferecerá um baile em Londres e outro no campo.

—Mas... vai demorar tanto! Eu queria estar com a senhora desde já— Daniela soluçou.

Lady Grayson preferiu não traduzir em palavras o que estava pensando.

Tinha certeza, contudo, que na época em que Daniela retornasse à Inglaterra, o marido não fosse continuar tão possessivo quanto era naquele momento.

O ano e meio que Daniela passou em Florença transcorreu lentamente.

Ao mesmo tempo, ela tinha de admitir que uma oportunidade como aquela nunca mais poderia se repetir.

Sir Marcus era um homem generoso com relação a despesas.

Proporcionou-lhe um magnífico curriculum que incluía o aprendizado de várias línguas estrangeiras, além de dança e hipismo.

Também era interessante a possibilidade de conviver com garotas de outras nacionalidades.

Os relatos sobre os diferentes países e seus costumes complementavam o estudo formal dos livros.

Quando, finalmente, por ocasião da Páscoa, Daniela voltou para a Inglaterra, acabava de completar dezoito anos.

Embora não estivesse ciente disso, ela tinha uma educação muito superior à da maioria das garotas inglesas de sua idade.

Herdara a inteligência do pai, bem como sua inclinação para aventuras. Crescera muito durante o tempo em que estivera no exterior. Tornara-se ainda mais bonita do que a mãe esperava.

Seus olhos verdes e grandes dominavam o rosto de um perfeito oval. Seus cabelos longos e ondulados possuíam reflexos de fogo. Eram muito admirados pelos florentinos por serem completamente diferentes dos da maioria das inglesas.

—Você se tornou uma linda moça, minha querida!— exclamou Lady Grayson com prazer—, como gostaria que seu pai pudesse vê-la agora!

—Ele certamente pensaria que eu sou muita parecida com a senhora, mamãe— Daniela respondera.

—Seus cabelos são muito mais bonitos do que os meus, e seus olhos ainda mais verdes— Lady Grayson salientara—, mas depois de me conhecer, ele disse que não poderia voltar a olhar para outra mulher.

A emoção embargava-lhe a voz.

Era impossível falar de seu primeiro marido, mesmo após transcorrido tanto tempo, sem que ela tivesse vontade de chorar.

Muitas e muitas noites ela não conseguia dormir com saudades dele. Desejava que os anos passassem depressa para poder se reunir a ele. Era uma ingratidão com o marido atual, mas ela não podia evitar.

Sir Marcus amava-a e sentia orgulho de tê-la como esposa.

Bastava ela expressar um desejo para que ele se apressasse a satisfazê-la. Sua caixa de joias estava repleta.

Se ele precisava ir a Londres e ela não o acompanhava, não houvera uma única vez em que Sir Marcus não trouxesse um novo broche de brilhantes, um anel ou um colar.

—Você está me mimando demais!— ela protestava—, como poderei lhe agradecer?

—Tudo que quero é o seu amor!— Sir Marcus respondia com paixão—, e quero-a toda para mim. Sinto ciúme de seus pensamentos e até do ar que respira!

Lady Grayson sabia que ele suspeitava de que ela não conseguia esquecer o primeiro marido.

Ela tinha muito cuidado em não mencionar esse assunto!

Não falava sobre Angus Colwyn nem sequer com Daniela, caso Sir Marcus estivesse por perto.

Tanto ela quanto a filha sabia que o ciúme não diminuíra com o tempo.

Ele enciumava-se de cada momento que a esposa passava com a filha.

Continuava, entretanto, a tratar Daniela com generosidade.

Mary Grayson sabia, sem que ele nada mencionasse, que seu desejo era que Daniela se casasse rapidamente para que ele pudesse se ver livre de sua presença.

Caminhando em direção ao estúdio, Daniela tentava imaginar o que teria feito de errado para perturbar o padrasto.

Na noite anterior os três haviam jantado sozinhos.

Logo após a refeição, para que Sir Marcus pudesse conversar em particular com sua mãe, Daniela se afastara em direção ao piano.

Aprendera a tocar muito bem.

A escola realizava várias competições por ano de música e canto, onde eram apresentadas canções modernas dos mais diferentes países.

As garotas francesas sempre conquistavam o prêmio, pois as músicas parisienses eram realmente as mais alegres e melodiosas.

As canções alemãs eram por demais sérias.

Apenas as italianas conseguiam se aproximar das francesas.

Daniela sentia-se humilhada de sempre ficar nos últimos lugares.

Uma vez chegara a escrever à mãe para que lhe enviasse as canções do momento.

Lady Grayson tivera muito trabalho para conseguir reuni-las.

Descobrira que em Londres havia estabelecimentos modernos onde as pessoas poderiam jantar e ao mesmo tempo serem entretidas por artistas de todos os tipos.

Esses lugares eram chamados Music Halls.

Apresentavam-se acrobatas, comediantes e músicos, alguns profissionais, alguns amadores.

Foi naquela época que os cantores se tornaram populares.

Suas músicas eram cantadas e assobiadas pelas ruas.

Sempre que se apresentavam nos Music Halls, eram um sucesso.

A audiência vibrava, aplaudia e cantava com eles. Champagne Charlie era uma das músicas favoritas. Gilbert the Filbert era a segunda na predileção.

Estas foram as canções, entre algumas outras, que Lady Grayson enviou a Florença.

Essas canções alegres e cheias de ritmo haviam cativado Londres.

As alunas aristocráticas da escola de Florença também ficaram encantadas com elas.

Pela primeira vez a Inglaterra conseguiu arrebatar o prêmio.

«Talvez meu padrasto tenha considerado muito frívola a música que toquei na noite passada», pensou Daniela ao chegar diante da porta do estúdio. «Esta noite me aterei aos clássicos.»

Entrou no estúdio e Sir Marcus não estava sentado em sua escrivaninha como ela esperava.

Ele estava em pé diante da janela e contemplava o jardim.

Era um homem alto e atraente, completamente diferente de seu pai, em muitos aspectos.

Não se podia dizer que não fosse um homem distinto.

—Disseram-me que o senhor queria me ver, padrasto— falou Daniela num fio de voz.

Sir Marcus voltou-se para ela, e para seu alívio ele estava sorrindo.

—Gostou do passeio, Daniela?— ele quis saber.

—Foi maravilhoso!— ela respondeu—, seus cavalos são excelentes e é um prazer poder montá-los!

Sir Marcus caminhou até a lareira e procurou se aquecer.

Embora estivessem no mês de abril e o sol brilhasse, a temperatura ainda era muito baixa. Principalmente dentro daquela casa imensa, com seus numerosos quartos e salas de teto alto. O fogo era aceso logo nas primeiras horas da manhã e assim permanecia durante todo o dia.

—Sente-se, Daniela— Sir Marcus pediu—, quero falar com você.

—Sobre o quê, padrasto?— ela indagou, preocupada—, espero não ter feito nada que lhe desagradasse.

—Não, não! O que quero dizer é que você é uma garota de sorte!— Sir Marcus a tranquilizou.

Daniela olhou-o, curiosa.

—Por ter permissão de cavalgar?

—Por algo muito mais importante— ele replicou.

Daniela ficou calada esperando por sua explicação.

Não imaginava o que poderia ser.

Houve uma pequena pausa como se ele estivesse procurando as melhores palavras que pudessem expressar seu pensamento.

—Lorde Waltingham visitou-me esta manhã de passagem para Londres e tivemos uma longa conversa.

Daniela não entendia no que isso poderia ter relação com ela.

Lorde Waltingham era um amigo íntimo de seu padrasto e um homem notável.

Contava com uma posição de importância na corte e representava a Rainha como Lorde-Tenente de Hertfordshire.

Era muito rico e descendia de uma família ilustre.

Daniela sabia que sua posição impressionava Sir Marcus.

Ele era excessivamente orgulhoso de sua própria linhagem, mas os ancestrais de Lorde Waltingham eram ainda mais importantes.

Desde os tempos da Rainha Elizabeth I, a família servira fielmente à nação e fora recompensada por sua lealdade.

—Você ficará surpresa ao saber— continuou Sir Marcus—, que Lorde Waltingham queria me falar a seu respeito.

—Sobre mim?— repetiu Daniela, realmente espantada.

Lorde Waltingham almoçara com eles no dia anterior e Daniela tentava se lembrar o que ele poderia ter lhe falado, que possivelmente envolvesse seu padrasto.

Lembrou-se, então, que ele comentara que a cadela, que sempre o acompanhava pelos passeios no campo, acabara de ter um filhote.

Daniela sorriu ao exclamar:

—Eu sei o motivo da visita! Lorde Waltingham deseja me oferecer um cachorrinho, embora eu saiba, padrasto, que não lhe agradaria esse tipo de presente.

—Não— afirmou Sir Marcus—, não foi esse o motivo da visita, mas você está certa quanto ao meu desagrado por outro cachorro. Certamente já bastam os meus!

—O que ele queria, então?— perguntou Daniela, curiosa.

—Você vai ter uma enorme surpresa, assim como eu tive— replicou Sir Marcus—, mas de uma coisa você pode estar certa. Você tem sorte, pois Lorde Waltingham deseja torná-la sua esposa!

Por um momento, Daniela pensou que iria cair.

Sua cabeça rodopiava insuportavelmente.

Fixou os olhos arregalados de espanto em seu padrasto antes de dizer as primeiras palavras que lhe vieram à mente:

—Mas ele é... velho demais!...

Sir Marcus contraiu as feições.

—Ele tem a mesma idade que eu, e não me considero velho.

—Não, é claro que não, padrasto— Daniela corrigiu-se rapidamente—, mas o senhor está casado com minha mãe... e Lorde Waltingham tem idade suficiente para ser meu pai!

—A idade não conta— Sir Marcus afirmou—, Lorde Waltingham é um dos homens mais importantes do condado, é extremamente poderoso e respeitado por todos que o conhecem.

O padrasto fez uma pausa antes de continuar:

—Você deveria se pôr de joelhos, Daniela, e agradecer a Deus a felicidade de poder se casar com tal homem.

—Mas não posso me casar com ele!— Daniela protestou—, mal o conheço e... não o amo.

Estava prestes a dizer que nunca poderia amar um homem tão velho, mas deteve-se a tempo, em consideração à sensibilidade do padrasto quanto à idade.

—Devo crer, portanto— Sir Marcus indagou com rispidez—, que você está recusando a oferta de meu amigo?

—Como já o informei— Daniela continuou—, não amo Lorde Waltingham e não poderei me casar com homem algum a menos que sinta amor por ele!

—Amor?— Sir Marcus repetiu—, o que uma jovem pode saber sobre o amor? O amor por um homem como Lorde Waltingham certamente virá após o casamento... é claro que sim!

—E se não vier? O que será de mim?— Daniela indagou.

Um silêncio pesado os separava.

Daniela percebia, pela expressão do padrasto, que ele estava profundamente zangado com ela.

—Não pretendo discutir com você, Daniela. Já comuniquei a ele que tanto eu quanto sua mãe o receberíamos com muito prazer como nosso genro.

O padrasto a olhou para se certificar de que ela o ouvia, antes de prosseguir:

—Ele voltará aqui amanhã à tarde para pedir formalmente sua mão... e você o aceitará!

—E... se eu recusar?— Daniela indagou, hesitante.

—Não vou admitir que faça essa tolice— Sir Marcus ordenou.

—Como já disse...— Daniela tentou argumentar.

—Preste atenção, sua menina tola— ele a interrompeu—, como deve saber, mesmo tendo vivido no estrangeiro, o casamento entre aristocratas é sempre arranjado, e o mesmo se aplica em nosso país. Como seus tutores, sua mãe e eu podemos obrigá-la a se casar com o homem que escolhermos, e você terá de nos obedecer!

Daniela levantou-se de um salto.

—Como podem forçar-me a um casamento que me faria infeliz? Mamãe casou-se com meu pai por amor. Não acredito que ela partilhe de sua ideia. Ela não me forçaria a casar com alguém por quem não sinto a menor afeição.