A Ninfa De largo Magico - Barbara Cartland - E-Book

A Ninfa De largo Magico E-Book

Barbara Cartland

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Beschreibung

O Duque seguiu seu instinto. Alguma coisa lhe dizia que Elfa tinha procurado refúgio no bosque. Correu pela trilha entre as árvores e finalmente chegou à clareira, onde ficava o pequeno lago, misterioso e encantador. Sobre a relva, viu algo brilhando ao luar. Era o vestido de Elfa. Então, das águas do lago cheias de lírios, surgiu uma figura esguia, uma ninfa etérea, de corpo prateado, como se de uma Deusa de tratasse. O Duque ficou paralisado, sem fôlego, com os olhos fixos naquela visão de sonho. A princípio, pensou que fosse uma alucinação, mas era Elfa, uma criatura linda e completamente nua, saindo da água, voluptuosamente…

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Seitenzahl: 161

Veröffentlichungsjahr: 2022

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A NINFA DO LAGO MÁGICO

Barbara Cartland

Barbara Cartland Ebooks Ltd

Esta Edição © 2021

Título Original: “Enchanted”

Direitos Reservados - Cartland Promotions 2021

NOTA DA AUTORA

O homem, vivendo atarefado na era da mecanização, perdeu de vista a fé que sempre orientou os povos primitivos.

Quem viveu entre os nativos, na África, Índia ou em outras partes isoladas do mundo, compreendeu que esses nativos conseguem realizar verdadeiros milagres porque acreditam no poder da mente e em seus deuses.

Mas nem mesmo um feiticeiro, na África, pode evitar que uma pessoa morra se essa pessoa já pôs em sua mente que morrerá. Os vodus da América do Sul podem ensinar muitas coisas extraordinárias àqueles que se dispuserem a ouvi-los.

Os soldados que serviram na Índia no tempo do domínio inglês foram testemunhas de que muitos indianos tinham o poder de saber que um parente havia morrido, estando a centenas de quilômetros de distância.

O que esses povos usam é seu instinto, ou o que os egípcios chamam de «terceiro olho». Muito do que chamamos de «clarividência» é apenas o instinto que todos nós temos e que, se desenvolvido e usado corretamente, pode nos servir de inspiração e proteção.

CAPÍTULO I 1870

A porta da biblioteca abriu-se, e imediatamente Lady Elfa Allerton deitou-se no chão do mezanino.

A biblioteca do Duque de Northallerton era am dos lugares mais notáveis da mansão. Todos os visitantes ficavam admirados diante de sua imponência e do belo mezanino de bronze forjado, situado ao longo dé duas paredes e ao qual se chegava por uma escada em espiral, igualmente de bronze.

A parte inferior do balaústre do mezanino consistia de flores e folhas, elaboradamente desenhadas, de tal forma que, quando Lady Elfa se deitou, tornou-se impossível ser vista por quem quer que entrasse na biblioteca.

Em silêncio, ela colocou o livro diante de si e continuou a ler, com a esperança de que a pessoa que havia entrado saísse logo.

Desconfiava de que era sua mãe. Sabia perfeitamente que, se fosse vista, seria imediatamente enviada ao jardim, para colher flores ou executar alguma outra tarefa.

A Duquesa de Northallerton era obcecada por seu jardim e não conseguia entender por que as filhas achavam aborrecido cortar flores murchas, plantar mudas vindas de diversas regiões do país ou, o que era ainda pior, arrancar as ervas daninhas.

Há muito se convencera de que sua segunda filha, Elfa, passava tempo demais entregue à leitura. Como resultado disso, dizia a Duquesa para quem quisesse ouvi-la, a jovem vivia com a cabeça nas nuvens e num mundo de sonhos.

Elfa virou uma página com muito cuidado e concentrou-se na leitura. De repente, levou um susto, ao ouvir a voz enérgica do pai.

—Ah, você está aí, Elizabeth! Eu a procurei pela casa inteira! Esperava encontrá-la no jardim.

—Estava procurando um dicionário, para ver como se pronuncia o nome em latim da nova azaléia que acabou de chegar. Precisa ir vê-la, Arthur! É uma espécie muito rara, e fiquei tão contente por ter chegado bem...!

—Elizabeth, preciso lhe contar uma coisa muito mais excitante do que a azaléia ou do que todas as suas plantas.

—O que aconteceu?— perguntou a Duquesa, um tanto apreensiva.

Sabia muito bem que o marido, homem apático e um tanto prosaico, raramente se excitava com o que quer que fosse, e era muito raro vê-lo entusiasmado.

—Resolvi de uma vez por todas a questão de Magnus Croft.

—Magnus Croft?

—Não seja tola, Elizabeth! Sabe muito bem que me refiro aos dez mil acres de terra que têm sido motivo de discórdia entre nós e os Lynchester nos últimos vinte anos.

—Ah, então é isso!

—Exatamente! Creio que ninguém, a não ser eu, poderia ter pensado numa solução tão satisfatória.

Elfa agora prestava muita atenção, pois sabia melhor do que a mãe como a disputa por Magnus Croft, o sítio em questão, havia gerado um conflito entre dois Duques.

A questão divertia a todos os moradores da região, mas havia resultado numa grande amargura, que impedia os dois Duques de se sentirem bem na presença um do outro.

O fato de os dois maiores proprietários de terras do lugar estarem empenhados em violenta contenda, era objeto de bisbilhotices sem fim e chegou até mesmo a ser comentado com malícia nos jornais. Os comentários deixaram o Duque de Northallerton indignado, pois tinha o maior desprezo por aquilo que chamava de «a imprensa marrom». Achava que a única justificativa para o nome de um nobre decente aparecer nos jornais era para noticiar seu nascimento ou sua morte.

Devido à inimizade entre as duas famílias, Elfa e a irmã Caroline haviam sofrido as consequências, não sendo convidadas para as festas no Castelo de Chester, residência do Duque de Lynchester.

Isso não as preocupava quando ainda eram crianças, pois havia muitos outros vizinhos que tinham grande prazer em recebê-las.

Agora, entretanto, Caroline havia crescido e Elfa seria apresentada à sociedade naquele ano. Era irritante saber que o novo Duque, que havia herdado o título há dois anos dava grandes festas, das quais eram excluídas.

—De qualquer maneira, vocês não teriam gostado!— argumentou a Duquesa, quando as filhas se queixaram—, os amigos do Duque são muito mais velhos e sofisticados, e vocês se sentiriam deslocadas naquele ambiente.

Pela reserva da mãe, Elfa percebeu que não aprovava os amigos do Duque. No entanto, a moça não conseguiu deixar de imaginar que eles deviam ser mais divertidos e interessantes do que os velhos fidalgos e cavalheiros que iam constantemente à mansão de Allerton, residência de seu pai.

Caroline não se interessava mais pelo Duque, mas Elfa de vez em quando o via à distância, quando caçava, e achava que tinha a aparência de um verdadeiro nobre.

Assim, prestou a maior atenção à pergunta da mãe:

—O que você fez em relação à terra, Arthur? Já estou cansada de ouvir falar neste assunto e acho que a atitude mais sensata seria você e o Duque de Lynchester dividirem a propriedade.

—Você nunca presta atenção ao que digo, Elizabeth! Já lhe falei dezenas de vezes que, quando o falecido Duque fez essa sugestão a meu pai, ele se recusou categoricamente a levar a ideia em consideração. Disse que a terra lhe pertencia e que jamais desistiria dela, mesmo que estivesse arruinado!

—Já tinha me esquecido, Arthur— a Duquesa suspirou.

—as deve se lembrar muito bem das discussões que surgiram em torno do assunto. Lynchester sempre insinuou que meu pai havia ganhado as terras num jogo de pôquer, quando ele estava bêbado demais para saber o que fazia. Só me resta dizer que, se um homem joga quando se encontra nesse estado, merece tudo o que possa lhe acontecer!

A Duquesa tornou a suspirar. Já ouvira aquela história centenas de vezes. Na verdade, não havia uma única ocasião, em sua vida de casada, em que o assunto das terras situadas entre as duas propriedades não tivesse se tornado tema de conversa.

O problema era que os dez mil acres de Magnus Croft constituíam um dos melhores territórios de caça da propriedade dos Lynchester e seus bosques abrigavam muito mais faisões do que as terras de Allerton.

O novo Duque, tão logo herdou o título, tentou convencer o vizinho a lhe vender a terra que havia pertencido aos Lynchester durante séculos.

O Duque de Northallerton estava em boa situação financeira e o sítio encontrava-se nos limites de sua propriedade, sendo, portanto, difícil cultivá-lo. No entanto, ele não tinha a menor intenção de abandonar aquilo que, sem dúvida, lhe pertencia por direito.

Sabia-se, porém, que o novo Duque de Lynchester era conhecido por sua determinação.

—Já lhe disse, mas você jamais presta atenção, que Lynchester insiste comigo no assunto do sítio toda vez que participamos de reuniões públicas. Chegou até mesmo a abordar a questão quando caçávamos, um momento em que me sinto muito pouco disposto a fazer negócios!— continuou o Duque, irritado.

—Realmente, não foi uma boa ocasião— concordou a Duquesa.

—Hoje ocorreu-me uma ideia, depois que Lynchester voltou a insistir no assunto.

—Qual, Arthur?

—Disse a Lynchester que nossa discussão se prolonga há muito tempo. Sugeri que dividamos a terra de maneira diferente.

—O que quer dizer com isso?

—Se casar com minha filha, ela levará o sítio como parte do dote.

—Sugeriu que ele casasse com Caroline? Arthur, como teve a coragem de fazer tal coisa?

—Acho que foi extremamente astucioso de minha parte. Todo mundo comenta que o Duque tem trinta e quatro anos, devia casar e ter um herdeiro. Pode haver algo mais lógico do que Caroline tornar-se sua esposa?

—Mas, Arthur, ela ama Edward Dalkirk, como você está cansado de saber!...

—Aquele rapaz não tem um tostão, e Lynchester, sem a menor dúvida, é o melhor partido de toda a região.

—Arthur, você prometeu a Caroline que, se Edward fosse bem-sucedido com seus cavalos, daria a permissão para o casamento.

—Não prometi coisa alguma. Disse apenas que pensaria no assunto, agora minha resposta é não! Caroline casará com Lynchester e o sítio fará parte do contrato de núpcias. Será uma Duquesa muito bela e usará os diamantes da família Lynchester com muita graça.

O tom da voz do Duque suavizou-se. Jamais havia escondido sua preferência pela filha mais velha, Caroline.

Apesar de orgulhar-se dos dois filhos, que estudavam nas melhores escolas do país, era Caroline a dona de seu coração, e ela havia conseguido, sem grande dificuldade, convencê-lo a prometer que a deixaria casar com o homem de sua escolha.

—Mas Arthur, Caroline está apaixonada!

—Apaixonada! Apaixonada! O que tem o amor a ver com isso? O amor nasce, após o casamento, Elizabeth, e Lynchester, pelo visto, não passará muito tempo ao lado da esposa. Todos nós sabemos quais são seus verdadeiros interesses.

—Realmente, Arthur, não sei como pode dizer semelhante coisa...

—Ora, Elizabeth, seja sensata! Lynchester é perseguido por todas as mulheres bonitas, desde que completou os estudos. Como você bem sabe, todas elas, apesar de elegantes, experientes e espertas, são casadas, e o Duque não está disposto a causar um escândalo, fugindo com uma delas.

—Mas porquê Caroline?

—Será que ainda preciso explicar? Porque o Duque quer o sítio a qualquer preço. Já que vai casar, mais cedo ou mais tarde, existe algo mais conveniente do que aceitar uma esposa que pode lhe trazer um dote apreciável? Afinal, são dez mil acres de terra fértil, que o pai dele perdeu no jogo porque estava bêbado demais para poder sequer segurar as cartas. Não se esqueça de que ele quer o sítio e está decidido a recuperá-lo.

—Você bem sabe que Caroline ficará com o coração partido...

—Ela vai se consolar. As jovens sempre se apaixonam por rapazes pouco recomendáveis e, na minha opinião, Edward Dalkirk não passa disso.

—Até agora, você não pensava assim.

—Se eu pensava assim ou não, é absolutamente sem a menor importância. Caroline casará com o Duque de Lynchester e você a convencerá a não se rebelar e me obedecer. Não tenho a menor intenção de mudar de ideia.

—Mas... Arthur!

—Não tenho mais nada a declarar. Como Lynchester virá nos visitar amanhã à tarde, acho melhor você comunicar a Caroline o que ela deve esperar de tal visita.

—Mas...

De repente, Elfa ouviu a porta da biblioteca bater com força. O pai tinha acabado de se retirar.

A jovem não se mexeu. Estava com a sensação de ter prendido o ar o tempo todo, e só quando a mãe também saiu da biblioteca é que respirou fundo.

Como era possível que seu pai tivesse tomado uma decisão tão cruel e diabólica? Se não tivesse ouvido aquela conversa, jamais acreditaria.

Tensa, levantou-se, colocou o livro de volta na estante e desceu a escada.

Ao sair da biblioteca, seguiu por um longo corredor que levava, não ao magnífico vestíbulo, com seu assoalho de mármore e suas esplêndidas estátuas, mas a uma escada lateral. Esta, por sua vez, dava no segundo andar, onde dormiam as duas moças e onde a sala de aulas, após a partida da governanta de Elfa, havia sido transformada em sala de estar.

Ao chegar à porta, Elfa estava quase sem fôlego e parou durante alguns instantes, não só para normalizar a respiração, como também para pôr um pouco de ordem nos pensamentos.

Como daria a notícia a Caroline? O que diria?

Ao abrir a porta, sentiu que agia exatamente como um mensageiro portador de más notícias, numa tragédia grega.

—Não posso... não posso... perder... Edward!— disse Caroline pela centésima vez.

Ainda que as lágrimas escorressem por seu rosto, Elfa a achava linda. Homem algum, nem mesmo o Duque de Lynchester, apesar de suas amantes elegantes e sofisticadas, poderia deixar de admirar sua beleza.

—Eu sei, meu bem, mas papai está decidido e não sei o que poderemos fazer, no momento, para evitar que o Duque peça sua mão.

—Posso dizer que não— falou Caroline, com a voz trêmula.

—Creio que não lhe daria ouvidos, e muito menos papai, agora que se decidiu.

Elfa tentara dar a notícia a Caroline da maneira mais suave possível.

No começo, a irmã ficou tão pálida, que teve a impressão de que ela ia desmaiar; logo em seguida, as lágrimas correram por seu rosto.

Caroline era meiga, gentil, muito agradável e tão bonita que chamava a atenção de todos os homens, mas não tinha um caráter muito forte. Na verdade, pensou Elfa, era exatamente o tipo da criatura que o Duque haveria de escolher para esposa.

Jamais, em toda a vida, havia causado a menor preocupação aos pais, até apaixonar-se por Edward Dalkirk. Estava de tal maneira envolvida com ele, que nenhum outro homem existia para ela! Os que tentaram fazer-lhe a corte verificaram ser impossível prender sua atenção ou até mesmo levá-la a perceber que existiam. Em vista disso, todos desistiram.

O Duque nada tinha contra Edward, a não ser o fato de ele ser pobre. Era filho único do Visconde de Dalkirk, que tinha um Castelo em minas no meio de uma propriedade decadente na Escócia. Quando Edward deixou o regimento, no qual havia servido com grandes méritos, decidiu tentar ganhar algum dinheiro criando cavalos.

Essa ambição foi facilitada pelo fato de seu tio lhe haver deixado uma casa e quinhentos acres de terra na divisa das terras do Duque de Northallerton. Foi assim que ficou conhecendo Caroline.

A partir desse momento, pois a amava com a mesma intensidade com que era amado, trabalhou arduamente para ganhar dinheiro suficiente e poder pedi-la em casamento.

Infelizmente, a criação de cavalos era um negócio que demorava para dar lucro, e não lhe passòu pela cabeça que teria que esperar pelo menos mais um ano para fazer seu pedido ao Duque.

—E se vocês fugissem?— sugeriu Elfa—, poderiam se esconder num lugar onde papai não conseguisse encontrá-los.

—Mas nesse caso... Edward perderia todo o dinheio que investiu nos cavalos e, não teríamos meios para encontrar outra casa. Mas não posso casar com o Duque! Preciso casar com Edward! Eu o amo... eu o amo... e morreria, se tivesse que casar com outro!

Elfa levantou-se e foi até a janela.

Gostava muito de sua irmã e sentia-se magoada ao vê-la tão infeliz.

Examinava argumento após argumento que Caroline poderia usar para convencer o pai de que devia casar com Edward Dalkirk, mas tinha plena certeza de que ele não lhe daria ouvidos.

Sempre soubera que o pai alimentava grandes ambições em relação a Caroline.

O Duque sentia-se orgulhoso, quando reconheciam a beleza da filha, e Elfa lembrava-se de sua expressão de triunfo, quando Caroline fizera muito sucesso ao ser apresentada à sociedade.

Tinha sido há dois anos. Elfa ainda estava na escola, mas pensou, um pouco decepcionada, que quando chegasse sua vez de debutar, o pai não sentiria por ela o mesmo orgulho.

Podia entender perfeitamente que o Duque, que sempre desejara que a filha preferida brilhasse, apreciaria imensamente que Caroline usasse a coroa de Duquesa e que sua posição social, após a da família real, fosse a mais elevada de toda a Inglaterra.

Sabia também que sempre tinha havido grande rivalidade entre as duas famílias cujas terras faziam divisa.

O velho Duque de Lynchester havia sido um tanto dissoluto, e o pai de Elfa era muito mais respeitado e admirado na região. No entanto, o novo Duque era diferente, amigo do Príncipe de Gales, e, pelo que Elfa sabia, despertava muita admiração nos altos círculos sociais que frequentava em Londres. Sem a menor dúvida, exercia sobre as pessoas uma influência que tinha qualquer coisa de real.

Isso não a surpreendia, pois ele se destacava durante as caçadas, não só por ser extraordinário cavaleiro, mas por possuir uma personalidade forte. Nunca lhe havia dirigido a palavra, mas tinha certeza de que era dominador e a intimidava. Um homem assim deixaria Caroline submissa e sem forças.

Devido ao extremo bom gênio de Caroline, era Elfa que, apesar de dois anos mais moça, tinha assumido a posição de líder. Todas as propostas audaciosas partiam dela e, caso as duas fossem punidas, Elfa protegeria a outra, assumindo toda a culpa.

De certa maneira, isso até chegava a ser justo, pois Caroline tinha pouca imaginação. Já Elfa, conforme o pai costumava comentar, possuia imaginação em excesso.

—O que posso fazer? O que posso fazer?— murmurava Caroline, assoando-se num lenço que já estava ensopado de lágrimas—, não posso casar com o Duque!

—Deve haver uma solução— disse Elfa.

De repente, gritou:

—Tenho uma ideia!

A irmã não disse nada. Afundou-se ainda mais na poltrona e cobriu os olhos com a mão.

—A ideia me veio neste momento— disse Elfa—, posso vê-la como se fosse um quadro diante de meus olhos. Vou conseguir! Sei que vou conseguir!

—Conseguir o quê?

—Salvar você!

—Vai me impedir de casar com o Duque?

—Exatamente!

—Mas como? Como? Sei que papai não me dará ouvidos, e Edward não dispõe de dinheiro, no momento. Ontem, quando nos vimos, contou-me que teve de pedir dinheiro emprestado ao banco para comprar algumas éguas.

—Se Edward pedisse emprestado um milhão de libras, isso ainda não impediria que você se tornasse a Duquesa.

—Eu sei, eu sei, mas acontece que não quero ser Duquesa! Quero casar com Edward e viver naquela casinha de que tanto gosto, sozinha com ele.

Caroline não se controlava mais. As lágrimas escorriam por seu rosto e molhavam os babados do vestido.

—Escute, querida— Elfa ajoelhou-se diante da irmã e pegou suas mãos—, pensei em como poderei salvá-la, mas meu bem, você terá que fazer exatamente o que lhe disser. Promete?

—Prometo qualquer coisa, se isso significar que casarei com Edward.

—Muito bem. Agora, preste atenção...

O Duque de Lynchester viu a carruagem do Duque de Northallerton afastar-se do Castelo. Atravessou então o vestíbulo e foi para seu escritório, onde costumava passar boa parte do tempo.

Era uma sala confortável e, apesar de ter poucos livros, as paredes estavam cobertas por magnífica coleção de quadros representando cavalos, telas colecionadas por um de seus antepassados. Ao agrupá-las no mesmo lugar, o Duque sabia que tinha criado um belo ambiente e estava decidido a dar o mesmo toque de beleza e distinção aos demais aposentos e salas do Castelo.

Apesar de não admitir o fato para si mesmo, era um perfeccionista e queria que tudo à sua volta agradasse, ao mesmo tempo, a seus olhos e a sua mente.

Desagradava-lhe profundamente o fato de ver o Castelo num estado de abandono, por culpa de seu pai e, sobretudo, de seu avô.

Era uma construção vistosa e impressionante, concluída por volta de 1750, despertando, na época, a atenção e o aplauso de quantos a conheciam.

O segundo Duque se preocupara unicamente com mulheres e cavalos, e o terceiro tinha verdadeira obsessão pelo jogo, o que lhe custara grandes somas de dinheiro e a perda de numerosos quadros de valor.

Os espaços vazios tinham sido preenchidos ao acaso, por outros quadros do mesmo tamanho, mas jamais do mesmo valor. O atual Duque decidiu que o resultado não era nem artístico, nem agradável.

No entanto, aos poucos, o Castelo tomava o jeito que ele queria, adquiria uma certa elegância, mas ainda faltava um toque feminino. Isso, infelizmente, só poderia ser obtido quando tivesse uma esposa.

Durante vários anos, havia tomado a firme resolução de não se casar, o que inevitavelmente iria interferir na vida tão divertida que levava em Londres. Além do mais, sentia prazer não apenas em ter uma mulher, mas várias.

Agora, no entanto, sem que os parentes fizessem sobre ele a menor pressão, tinha clara consciência de que já estava no momento de ter filhos, sobretudo um herdeiro.

—Se esperar muito tempo mais, será muito velho para ensinar seu filho a tornar-se um bom cavaleiro e um caçador competente— comentou a avó, com certa ironia, quando a visitou certo dia.

O Duque não disse mais nada, e ela acrescentou:

—Causa-me profunda pena pensar que os diamantes da família Lynchester estão guardados num cofre. As pérolas devem estar perdendo o brilho e ficando esverdeadas.

O Duque riu, mas sabia muito bem que a avó estava sendo perfeitamente sensata.