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Quando Walt Chester, um cavalheiro ferido, corre para Wentmore Hall, sangrando do ombro e se aproxima implorando "—Pelo amor de Deus, esconda-me! Se me apanharem, eles me matarão!" A bela e jovem Rafaella Wentmore, esconde-o na passagem secreta de sua mansão, outrora usada séculos atrás, por padres católicos, que escapavam da ira da Rainha Elizabeth e depois dos Monarquistas. O jovem, Walt Chester, foi baleado pelo vizinho de Rafaella, Lorde Grimstone, que exige uma procura incansável pela sua casa. O pai de Rafaella, um General lutando no exército do Duque de Wellington em Espanha, nunca gostou de Lorde Grimstone, e sempre suspeitou dele e tinha os seus motivos. Ela partilhava também de essa suspeita do pai. Assim, Rafaella pensa que Walt Chester, é um agente do governo, que suspeita que Lorde Grimstone é o líder de um gang de contrabando de bens de luxo franceses, que entram ilegalmente em Inglaterra, e portanto, Grimstone só pode ser um traidor, pois os ingleses estão em guerra com Napoleão Bonaparte. Apelando à coragem de Rafaella, Walt suplica-lhe que leve ao quartel-general uma mensagem urgente, que poderia salvar muitas vidas. A informação pode ser sobre Lord Grimstone e seu gang de contrabandistas. Começa então uma aventura aterrorizante. Agora a vida dela, assim como a de Walt, estão em jogo, e à medida que o amor vai florescendo entre ambos, ela sente no coração, que o ama profundamente, e que, o que mais importa, é a segurança de Walt. O belo desconhecido guardava um segredo vital, e ela sabia, que ele só o revelaria, quando tivesse uma prova da sua total lealdade à causa inglesa!
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Seitenzahl: 167
Veröffentlichungsjahr: 2022
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O VISITANTE MISTERIOSO
Barbara Cartland
Barbara Cartland Ebooks Ltd
Esta Edição © 2018
Título Original: “Love Runs in”
Direitos Reservados - Cartland Promotions 2018
CAPÍTULO I 1883
Rafaella cavalgou até os estábulos e desmontou.
Não havia ninguém à vista, motivo pelo qual deduziu que o cavalariço provavelmente estaria trabalhando no jardim.
Devido à guerra lhes restaram poucos empregados, e todos que puderam permanecer, assumiram duas funções em lugar de apenas uma.
Colocou o cavalo na cocheira e desafivelou a sela.
Depositou-a sobre uma barra de madeira que ficava na passagem, e voltou para retirar os arreios.
Verificou, em seguida, se havia forragem suficiente na manjedoura e água fresca no balde.
—Você foi um bom menino!
—Ela acariciou o pescoço do animal.
— Se houver tempo, tornaremos a sair esta tarde.
O movimento que Heron fez com a cabeça lhe deu certeza de que fora compreendida.
Ele empurrou-a delicadamente com o focinho antes que saísse.
A caminho de casa, Rafaella cogitou que o dia estava bonito demais, e que era uma pena ter de entrar.
Ela tinha, porém, muitas tarefas a fazer.
Sua mãe estava doente.
Embora a nanny, a velha babá, constituísse uma ajuda inestimável, ainda sobravam dezenas de afazeres para Rafaella.
A sra. Wentmore estava incapacitada de deixar o quarto.
Conforme Rafaella se distanciava dos estábulos e se aproximava da casa, sentia pequenos arrepios percorrê-la.
Nada poderia se comparar a ela em beleza, pensou. Os tijo-
los que haviam adquirido uma tonalidade rósea com o transcorrer dos anos, o telhado de duas águas, e as chaminés imponentes, características da era elizabetana.
A casa estava nas mãos da família Wentmore há muitas gerações.
Seu pai, que lutava na península ao lado de Wellington, deveria estar contando os dias para poder retornar, ela imaginou.
—Se ao menos esta guerra horrível terminasse logo, nós poderíamos ficar todos juntos e voltar a ser felizes como antes
—Rafaella falou consigo mesma.
Uma pontada de medo trespassou-lhe o coração ao súbito pensamento de que seu pai tombasse em alguma batalha.
Essa desgraça já ocorrera em muitos lares do vilarejo.
Ela tinha certeza de que a enfermidade que acometera sua mãe era em grande parte devido ao temor de jamais poder reencontrar o marido.
Rafaella entrou na casa e se deteve no centro da sala antiga, com sua enorme lareira medieval e paredes revestidas em tecido.
Ouvira um som inesperado às suas costas.
Virou-se, surpresa.
Percebeu, então, que o som que ouvira era de passos acelerados. Alguém corria através do pátio de cascalhos.
Antes que pudesse compreender o que estava acontecendo, um homem subiu os degraus que levavam à sala, e abriu brus- camente a porta.
Rafaella o encarou, assustada.
Ele não era um de seus vizinhos. Não o conhecia. Era um completo estranho.
Era jovem, atraente e, apesar do comportamento inusitado, um cavalheiro.
No momento, contudo, estava bastante desalinhado.
Quando ele a viu, assustada, e olhando-o fixamente, juntou as mãos e implorou:
—Pelo amor de Deus, esconda-me! Se me apanharem, eles me matarão!
Rafaella deixou escapar uma exclamação de assombro.Viu, então, que escorria sangue pelo braço e pela mão do fugitivo.
—Eles acertaram o meu braço— o homem explicou—, mas se tornarem a atirar em mim certamente será para matar!
Conforme falava, ele olhava apreensivo por cima do ombro.
Rafaella sabia que os homens de quem ele fugia não poderiam estar a muita distância.
Com rapidez de raciocínio, uma característica de sua personalidade, Rafaella decidiu:
—Venha comigo!
Atravessou o hall e começou a correr pelo longo corredor que levava à biblioteca, ciente de que o estranho a seguia de perto.
Ele ainda respirava com dificuldade, da mesma forma que fizera ao invadir sua casa.
Rafaella abriu a porta da biblioteca.
Era um recinto amplo e imponente, com livros recobrindo todas as paredes. Em um dos cantos abria-se uma galeria que podia ser alcançada por degraus que formavam uma escada circular.
A sala contava, também, com uma lareira em estilo medieval, ao redor da qual fora agregado com o tempo um consolo de mármore.
Naquele instante, Rafaella pensou ter ouvido um som vindo do hall que tinham acabado de deixar.
Aproximou-se rapidamente da parte lateral do consolo e pressionou uma das flores entalhadas no painel de carvalho.
Como por encanto, abriu-se uma porta baixa e estreita.
—Uma passagem secreta!— exclamou o estranho a seu lado.
—Exatamente o que eu necessitava. Obrigado, muito obrigado por salvar a minha vida!
Enquanto agradecia de alma e coração, o homem baixava a cabeça e era tragado pela escuridão.
—Mantenha-se do lado esquerdo e chegará ao esconderijo do sacerdote— Rafaella sussurrou.
Em seguida fechou novamente o painel.
Afastou-se da lareira e se colocou no espaço oposto da sala.
Seus ouvidos aguçados permitiram que ouvisse a aproximação de alguém pelo corredor.
No minuto seguinte, a porta da biblioteca foi aberta de par em par.
Um homem estava parado na soleira da porta e ela o reconheceu.
Era lorde Grimstone, cujo Castelo distanciava-se cerca de dois quilometros de sua casa e que tinha vista para o mar.
Rafaella já o vira no bosque onde eram realizadas as caçadas e por duas vezes em festas oferecidas pelo lorde-tenente, às quais comparecera com sua mãe.
Não se recordava de alguma vez ele ter sido recebido em sua casa.
Era sabido que seu pai não o estimava.
O mais estranho, contudo, era que sempre ouvira falar que o próprio lorde Grimstone jamais demonstrara interesse em se relacionar com os vizinhos.
Rafaella considerou uma grande impertinência a presença daquele homem em sua casa.
Ele sequer se fizera anunciar por um criado.
Aparentava pouco mais de quarenta anos, e deveria ter sido atraente em sua joventude.
Atualmente seu rosto parecia envelhecido, com linhas profundas ao redor dos olhos e principalmente de cada lado da boca. Os sulcos, na verdade, vinham da base do nariz até o queixo.
—Onde ele está?— o homem indagou em tom brusco e autoritário.
Rafaella fingiu surpresa.
—Creio, senhor, que seu nome é lorde Grimstone— ela comentou lentamente.
—Ouvi meu pai mencioná-lo algumas vezes, mas estou certa de que nunca fomos apresentados.
—Onde está o homem que vi fugindo em direção a esta casa? — lorde Grimstone insistiu.
—Homem?— Rafaella repetiu.
—Não sei a quem se refere, a menos que se trate de Dawkins, nosso criado.
—Não estou falando a respeito de serviçais— lorde Grimstone retrucou áspero.
—Mas sobre o homem que conseguiu escapar dos idiotas que tentavam capturá-lo. Sei que está escondido em algum lugar desta casa!
—Temo que esteja enganado, meu senhor— Rafaella respondeu, calma.
—Como minha mãe não se encontra bem de saúde e meu pai continua lutando ao lado de lorde Welling- ton, não temos recebido hóspedes ou visitas.
—Não sou um hóspede nem uma visita. Maldição!— o nobre gritou.
Porém, assim que notou a expressão chocada de Rafaella, apressou-se a pedir desculpas.
—Perdoe-me. Não deveria ter praguejado em frente a uma dama. Ao mesmo tempo, sinto-me furioso por haver perdido aquele homem.
—Não posso imaginar de quem esteja falando, meu senhor, mas asseguro-lhe que, quem quer se seja o indivíduo a quem persegue, ele não se encontra aqui!
—Estou convicto que sim!— lorde Grimstone confirmou.
—E insisto que meus homens façam uma busca.
Rafaella enrijeceu.
—Esta é minha casa— ela protestou—, e como já expliquei ao senhor, minha mãe está doente. Não creio que se comportasse de maneira tão agressiva caso meu pai estivesse entre nós.
—O General certamente não me impediria ou a meus homens de caçar o fugitivo— lorde Grimstone argumentou.
—Meu pai indagaria a razão de tal caçada, e também o faria enxergar a impossibilidade de tal pessoa ser encontrada aqui!
Por estar faltando com a verdade, algo que nunca fazia, Rafaella cruzava os dedos às costas.
Consolava-se, entretanto, por realmente acreditar que estava certa ao ocultar e proteger o homem de alguém tão desagradável e desprezível quanto lorde Grimstone.
—Por mais que negue que o homem se encontre aqui, pretendo encontrá-lo e prendê-lo.
—Então é melhor que comece a procurá-lo em outro lugar, pois não posso permitir que seus homens perturbem minha mãe ao vasculhar nossa propriedade— Rafaella protestou.
—Eu consideraria uma afronta que procedessem a uma busca sem minha autorização.
Lorde Grimstone reconheceu a seriedade da situação.
Por um momento pareceu vacilar, embora ainda continuasse determinado a localizar sua presa, custasse o que custasse.
Inesperadamente, sua voz assumiu um tom muito diferente ao fitá-la.
—A senhorita cresceu bastante desde a última vez que a vi. Tornou-se uma jovem muito bonita.
Ele a examinou da cabeça aos pés de uma forma que Rafaella julgou insultante.
Erguendo ainda mais o queixo, ela continuou:
—Se não me engano, milorde, ouço seus homens invadindo o hall. Tenha a bondade de ordenar que permaneçam do lado de fora, até que terminemos nossa conversa.
Rafaella falou com dignidade e firmeza que a fizeram parecer mais velha.
Percorreu a sala e se colocou à frente de lorde Grimstone. Fez isso com muita calma e sem olhar para trás.
O homem não teve outra alternativa senão segui-la, embora Rafaella ouvisse suas altercações sussurradas ao sair para o corredor.
Assim que alcançou o hall, Rafaella tornou público seu desagrado.
Encontrou três homens examinando a escadaria que se iniciava por trás de uma arca e de um relógio de carrilhão, da época de seu avô.
No mesmo tom de voz que usara com lorde Grimstone, Rafaella se dirigiu a eles:
—Como os senhores não foram convidados a entrar nesta casa, peço que façam a gentileza de se retirarem e esperarem lá fora, até que recebam a devida permissão.
Os homens, ela logo percebeu, eram tipos rudes, não se pareciam com os habitantes locais.
Eles a encararam, surpresos. Em seguida, e até de forma mais dócil do que Rafaella esperava, eles se encaminharam para a porta.
Acabavam de abri-la, quando lorde Grimstone apareceu.
Eles se detiveram e olharam-no como se aguardassem sua contra-ordem.
—Façam o que a senhorita ordenou. Eu os chamarei quando quiser vê-los.
Os homens tocaram rapidamente seus chapéus, que não haviam tirado ao entrar na casa ou diante de Rafaella, e desceram os degraus que levavam ao pátio.
Lorde Grimstone se colocara diante da lareira.
—Agora ouça, minha jovem.
Ele procurou se valer de sua autoridade.
—A senhorita não deve barrar os caminhos da justiça. Insisto em levar o homem que certamente está escondido em algum lugar desta casa.
—Já que está falando sobre justiça, milorde— Rafaella retrucou—, imagino que o chefe de polícia deva ser comunicado. Meu pai o conhece. Converse com ele, relate os acontecimentos que o levaram a invadir minha casa à caça de um homem. Caso ele recomende outra atitude de minha parte, pode estar certo de contar com minha colaboração.
Rafaella percebeu, pela expressão de lorde Grimstone, que a última coisa que ele desejava era a interferência do chefe de polícia em seus assuntos.
Ela conseguira um trunfo para o qual lorde Grimstone não tinha resposta.
Contudo, como não queria admitir ser derrotado por uma garota, ele tentou mais uma cartada.
—Não é necessário envolver a polícia num caso tão simples! O homem era meu prisioneiro e escapou. Tudo o que quero é realizar uma busca minuciosa em sua casa e levá-lo para onde não tornará a causar problemas.
—Segundo meu conhecimento, isso é algo que o desconhecido não causou— Rafaella redarguiu, altiva.
—O comportamento de milorde, sim, é que está constituindo um problema. Jamais esta casa foi tão insultada!
Por um momento, lorde Grimstone pareceu embaraçado.
Logo, contudo, recuperou seu autocontrole.
—A senhorita é muito esperta na luta por seus interesses, mas acontece que estou determinado a não deixar esta casa de mãos vazias.
—Muito bem, já que faz tanta questão, dou minha permissão para que seus homens vasculhem a casa, desde que não incomodem minha mãe.
Rafaella fez uma ligeira pausa antes de prosseguir.
—No entanto, creio que meu pai terá algo a dizer a respeito do comportamento inusitado do senhor. Eu certamente o colocarei a par desta desagradável ocorrência, assim que retornar de sua brava luta por este país, contra o inimigo Napoleão Bonaparte.
Conforme falava, Rafaella se afastava de lorde Grimstone em direção à sala de estar.
Abriu a porta.
Seu coração parecia na iminência de saltar do peito enquanto ela caminhava, a passos lentos, até a janela que dava para o jardim, especificamente aos canteiros de rosas.
Tinha convicção, entretanto, de que se comportara da forma que seu pai esperaria que fizesse.
Sua maior esperança era haver desarmado completamente o nobre vizinho.
De fato, ele pareceu perplexo ao vê-la ceder.
Então, apesar de sua firme convicção, lorde Grimstone vacilou antes de se encaminhar à porta principal, que dava para o pátio.
Os homens o esperavam ao pé da escada.
O faetonte de lorde Grimstone estava estacionado atrás dos homens. A carroça na qual ele pretendia rebocar o prisioneiro apontava lentamente pelo caminho estreito.
De pé, no topo da escada, lorde Grimstone se dirigiu aos homens com rispidez.
—Vocês têm absoluta certeza de que viram o fugitivo entrar aqui?
—Um deles, que parecia um pouco mais inteligente do que os outros dois, respondeu. Pensamos que sim, milorde, mas ele pode ter escapado para trás da casa. Não dava para ver direito. Nós estávamos a uma distância razoável, como milorde bem sabe.
Lorde Grimstone franziu o cenho.
—Eu deveria ter adivinhado que não poderia confiar em vocês!
O homem respirou fundo.
—Vamos, mexam-se, seus estúpidos! Procurem por todo o jardim. Se ele não se encontra dentro da casa, só pode estar por aqui.
Os homens se apressaram a obedecer. Deram a volta à casa, inspecionando cada sebe, cada arbusto.
Rafaella os observava através da janela da sala de estar.
Sentia júbilo pór haver triunfado sobre lorde Grimstone.
Ao mesmo tempo, não podia evitar imaginar o que o estranho poderia ter feito, que resultara no ódio e perseguição de seu vizinho.
Poderia ter se enganado e o fugitivo ser realmente um criminoso?
Ele lhe pedira ajuda em nome de Deus.
Fora essa abordagem que a fizera se decidir a não entregá- lo a um homem desagradável como lorde Grimstone.
—Talvez seja melhor eu chamar o chefe de polícia, assim que ele se for— Rafaella falou consigo mesma.
O essencial, em primeiro lugar, era certificar-se de que lorde Grimstone realmente houvesse partido.
Era imprescindível que não a estivesse espionando, quando abrisse a passagem secreta para soltar o homem que lá se escondia.
Rafaella adorava o mistério dessas passagens secretas desde menina, quando o pai as mostrara.
Ele lhe contara muitas histórias sobre as personagens que lá haviam se escondido.
Quando seus ancestrais construíram aquela casa, os adeptos do catolicismo eram perseguidos pelos seguidores da Rainha Elizabeth.
Muitos haviam sido abrigados por eles e salvos.
Mais tarde, durante a Guerra Civil, a casa fora sucessivas vezes invadida pelas tropas de Cromwell em perseguição aos monarquistas.
Rafaella brincara com suas fantasias naquele tempo, inventara histórias nas quais tivera de se esconder de gigantes e ogros.
O que jamais cogitara fora que na vida real tivesse de esconder um homem, que corria perigo de perder a vida.
«Assim que lorde Grimstone se for, precisarei conversar com o estranho e também providenciar uma bandagem para seu braço», ela pensou.
O pobrezinho devia estar sofrendo muito.
Os homens não paravam de vasculhar o jardim. Não deveria restar um arbusto sequer que não houvesse sido minuciosamente inspecionado e maltratado.
Rafaella sentiu um arrepio ao imaginar o quanto o estranho seria maltratado, caso o encontrassem.
Terminada a tarefa, os três homens começaram a discutir entre si.
Em seguida, como se finalmente constatassem que haviam perdido sua presa e que nada mais lhes restava fazer, deram de ombros e pareceram procurar o patrão com os olhos.
No mesmo instante, a voz de lorde Grimstone soou atrás dela.
—Os idiotas o perderam, mas fique certa de que eu o encontrarei mais cedo ou mais tarde.
Rafaella se voltou para ele.
—Só espero, milorde, que a captura não ocorra na propriedade do meu pai. Caso o senhor realmente necessite retornar, talvez pudesse ser educado o suficiente para nos avisar previamente de sua visita. Ou ao menos, se chegar inesperadamente, bater à porta.
Depois que terminou de falar, Rafaella percebeu que deixara lorde Grimstone atônito com suas maneiras.
De repente ele começou a rir.
—Ao menos tem fibra, minha garota!— ele exclamou.
—Talvez por ser tão bonita, acredita que tenha o direito de se dirigir aos outros como lhe apraz!
Mais uma vez Rafaella não gostou do jeito que lorde Grimstone a fitava.
Conforme os olhos dele deslizavam por seu corpo, ela teve a sensação de estar sendo despida.
Ela lhe endereçou o mais frio dos olhares.
—Poderia ter a bondade, milorde, de pedir a seu cocheiro que feche os portões principais ao sair? Nosso porteiro está servindo no campo de batalha, e sua esposa sofre de reumatismo.
Lorde Grimstone tornou a rir.
—Precisamos nos encontrar novamente, Srta. Wentmore— ele sugeriu—, em circunstâncias mais alegres. Gostaria de jantar comigo uma destas noites? Eu mandaria minha carruagem para buscá-la.
—Obrigada, milorde— Rafaella prendeu a respiração—, mas enquanto minha mãe estiver doente, será impossível deixá-la.
Os lábios do homem se distenderam num sorriso malicioso.
—Não sou homem de aceitar um não como resposta. Prometo que nos encontraremos antes do que imagina.
Ele se encaminhou para a porta com passos pesados.
Ali chegando, olhou para trás como se esperasse que Rafaella o seguisse.
Ela inclinou a cabeça, mas a mensagem de seus olhos era mais um insulto do que uma cortesia.
Como se o ar lhe faltasse, lorde Grimstone abriu a porta e desceu os degraus.
Rafaella não se moveu até ouvir o faetonte se distanciar, juntamente com o outro veículo.
Só depois que os ruídos cessaram, ela deu o primeiro passo em direção à porta.
A carroça já desaparecia no fim do caminho.
O faetonte certamente se encontrava na estrada que conduzia ao vilarejo.
Rafaella suspeitou de repente que lorde Grimstone pudesse ter deixado um de seus homens para espionar a casa.
Olhou para cada arbusto que circundava o pátio.
Não parecia haver ninguém escondido.
Por medida de segurança, porém, ela fechou a porta e espiou mais uma vez para fora, antes de se decidir a voltar para a biblioteca.
Realmente não deveria existir nenhum espião em seu jardim. Seu impulso foi o de cerrar as cortinas, mas julgou que isso seria um erro. Certamente levantaria suspeitas, caso eles resolvessem voltar.
Espiou pela última vez em cada uma das três janelas.
Os passarinhos saltitavam, tranqüilos, sobre o gramado em busca de alimentos.
Os pombos brancos, que sua mãe adorava, moviam-se em grupos por entre os canteiros de flores.
Rafaella considerou que não estariam em paz caso um estranho os estivesse espreitando, mas revoando, alarmados.
Assim mesmo, só depois que transcorreu um bom tempo desde a partida de lorde Grimstone, ela teve coragem suficiente para se aproximar do painel.
A porta secreta se abriu, mas ele não a estava esperando.
Devido ao intenso nervosismo, Rafaella não entrou de imediato.
Voltou até a porta da biblioteca e transferiu a chave, que estava do lado de fora, para dentro.
Trancou-a com duas voltas.
Em seguida se fez anunciar à entrada da passagem secreta.
—Está tudo bem?
Não houve resposta.
O estranho deveria estar, como ela havia sugerido, na sala do sacerdote, onde os católicos por inúmeras vezes haviam realizado suas missas.
Ficava a uma certa distância da entrada da biblioteca.
Rafaella conhecia bem a passagem. Era completamente escura em certos trechos, embora ocasionalmente penetrasse luz e ar.
Acendeu a vela que se encontrava sobre o consolo da lareira e a carregou com mãos trêmulas.
Deteve-se um momento para fechar a porta atrás de si.
Caminhou lentamente enquanto protegia a chama da vela com a mão em concha. Não queria que ela se apagasse devido a um súbita rajada de ar. Isso já acontecera uma vez com seu pai. Eles tiveram de tatear pelas paredes e fora muito difícil retornar à entrada da passagem.
Rafaella chegou, por fim, ao esconderijo do sacerdote.
Era pequeno, mas ao mesmo tempo grande o suficiente para comportar um altar com um crucifixo de ouro e um genuflexório.
Também havia algumas almofadas de rendas feitas à mão, onde as pessoas se ajoelhavam, mas que já estavam bastante gastas e desfiadas.
Parecia não haver ninguém ali. Ergueu a vela à altura dos olhos, e só então percebeu a figura inerte caída ao chão. O estranho repousava a cabeça sobre a almofada do genuflexório.
Seus olhos estavam cerrados, e por uma assustadora fração de segundo, Rafaella julgou que estivesse morto. Mas não. Ele estava apenas profundamente adormecido.
O ferimento de seu braço sangrava e manchava a manga de seu casaco.
Por alguns segundos Rafaella não conseguiu desviar òs olhos, que insistiam em fitá-lo.
Como se o houvesse chamado em silêncio, apenas com a força de seu pensamento, ele abriu os olhos.
Ela deixou escapar um pequeno suspiro de alívio ao ouvi-lo.
—Perdoe-me, mas eu não dormia há duas noites, e fui vencido pelo cansaço sem que percebesse.
—Lorde Grimstone e seus homens se foram— Rafaella o informou—, mas ele se comportou de maneira desagradável e estava determinado a encontrá-lo.
—Infelizmente eu sei disso— respondeu o estranho—, mas agora me diga, como posso agradecê-la por me amparar e por salvar minha vida?
—Acha que lorde Grimstone... acha que ele realmente o teria assassinado?— Rafaella indagou num fió de voz.
—Sem dúvida! E como pode notar, eles já me feriram no braço.
Ele baixou os olhos para o sangue que cobria sua mão.
—Precisamos desinfetar esse braço e providenciar um curativo— Rafaella afirmou—, creio que é melhor sair daqui por alguns instantes. Não há perigo.
O estranho se colocou em pé.
—Está certa disso? Se Sua Senhoria está ansioso por me capturar, certamente deve ter plantado um espião em sua propriedade para observar, caso eu resolva sair de meu esconderijo.