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Um roteiro extremamente útil sobre a problemática dos viciados, os tratamentos e o papel ativo da família. Descubra qual a relação do tempo com as drogas em uma época em que tudo é acelerado e imediato. A perspectiva do prestigiado Dr. Eduardo Kalina, médico psiquiatra e especialista em vícios, é fundamental para refletir sobre um dos temas mais complexos que todos os países do mundo enfrentam.
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Seitenzahl: 55
Veröffentlichungsjahr: 2018
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O tema das drogas acompanha a história da humanidade, já que desde tempos remotos o homem descobriu os efeitos do álcool em frutos fermentados (ou na ingestão de certas plantas que produzem estados alterados de consciência), mas deve ser esclarecido que certos fenômenos isolados, ao longo dos séculos, e em certas culturas, tornaram-se surtos de consumo de algumas substâncias. No entanto, esses surtos nunca tiveram a magnitude ou extensão do que começou a ocorrer no mundo a partir da década de sessenta.
Podemos mencionar inúmeras histórias sobre drogas como, por exemplo, o consumo de ópio na China, conhecido por todos, que culminou na Guerra do Ópio.
Neste artigo, vamos falar de um fenômeno que começa a se expandir chegando a ter o caráter de uma epidemia ou mesmo de uma pandemia, palavra que descreve a extensão desse processo além das fronteiras de um país. Pensemos que a disponibilidade de meios de difusão em massa facilita o conhecimento de maneira imediata a todo o mundo de qualquer informação (o que acontece em um determinado lugar pode ser difundido em minutos em quase todos os lugares através, por exemplo, das redes sociais e da telefonia móvel). A Internet derrota ditaduras que querem privar as pessoas de informações. Tudo mudou e continua mudando cada vez mais rápido.
A disponibilidade de informações para qualquer jovem que usa um computador, mesmo que rudimentarmente, é fenomenal. Portanto, a preparação que um jovem deve ter para não se deixar seduzir por todo esse bombardeio virtual é muito diferente hoje, do que há quarenta anos.
Outro aspecto é a velocidade das mudanças em todos os níveis da vida. É tão assombrosa que, há alguns anos, propus analisar uma nova contaminação, a contaminação do tempo, porque o ritmo da vida imposto a nós requer habilidades especiais para tentar viver como “super-homens”. Consequentemente, isso também é um fator indutor do consumo de drogas, pois são oferecidos como combustíveis ideais para chegar a esse estado que vai além da condição humana, um estado que poderíamos chamar de robótico. Na minha opinião e na de muitos colegas, a cocaína é um exemplo claro dessa postulação, porque oferece uma experiência comparável aos espinafres para Popeye, aquele personagem de desenho animado famoso que se tornava poderoso apenas engolindo essa verdura.
O homem é o único animal que pretende viver burlando os limites de sua condição biológica. As chamadas drogas “despertadoras”, “aceleradoras” ou psiconeuroestimulantes, que permitem passar dias inteiros sem dormir, estão na moda (cocaína, anfetaminas, metanfetaminas, bebidas energéticas etc.) e têm consequências nocivas. No entanto, quase ninguém pensa sobre o que acontece depois, as consequências já não são importantes, como diz a famosa frase de uma canção “live fast, die young” (“viva rápido, morra jovem”), repetida sem descanso como um ideal.
Esses exemplos são para facilitar a compreensão das diferentes causas dessa verdadeira pandemia, que, como outras do tipo infectocontagiosas, está levando muitas vidas, especialmente de pessoas muito jovens.
Nesse panorama, as novas gerações recebem uma quantidade inumerável de mensagens contraditórias, altamente indutoras do consumo de drogas. Nossa pesquisa sobre os tratamentos de jovens adictos e suas famílias nos levou a estabelecer que o modelo sociofamiliar que podemos descrever em termos de “faça o que eu digo e não o que eu faço” é altamente patogênico, isto é, doente, especialmente quando não se dá o tempo necessário para que os jovens sejam conscientes dessa armadilha. Isso é observado principalmente do ponto de vista da comunicação. Podemos perceber que existe um problema de metacomunicação, isto é, um conflito entre os sinais e os discursos utilizados na comunicação, onde prevalece o contraditório.
Para exemplificar isso, basta ver a política que segue a maior parte dos países, com a propaganda a respeito do tabaco e do álcool, cujo consumo é promovido enquanto os governos falam sobre sua preocupação com a difusão das drogas. Quanto a isso, conseguimos analisar exemplos de mensagens contraditórias e muito sutis como, por exemplo, uma campanha realizada há alguns anos em Paris, na França, com cartazes colocados no metrô da cidade que diziam: “Defense de fumer, lui meme une Gallia” (“Proibido fumar, inclusive um Gallia”). Ou seja, ao enfatizar a proibição do tabaco, simultaneamente uma marca é divulgada. O tabaco, a droga mais prejudicial e difundida, fez com que a Dra. Ann Grundland, diretora da Organização Mundial da Saúde no ano de 2000 e ex-ministra da Saúde do governo norueguês, adverte-se que esse tipo de adicção, como todas, é uma doença que pode ser prevenida, e “que a cada oito segundos morre uma pessoa no mundo devido ao tabaco ou por causas relacionadas a ele”.
Outra causa do aumento do consumo de drogas é a horrível mensagem contraditória que a sociedade dá aos jovens no que diz respeito à ecologia: por um lado, eles são informados sobre a vida e hábitos saudáveis e, por outro, é oferecido a eles um ambiente altamente contaminado e em processo de deterioração, e sem que as medidas necessárias tenham sido tomadas para melhorar o problema.
As nações que mais contaminam vêm adiando ano após ano as decisões necessárias para deter essa tragédia que estamos testemunhando, com desastres climáticos que dia a dia estão complicando nossas vidas. Um exemplo claro dessa situação é o Protocolo de Quioto, adotado inicialmente em 1997, com o objetivo de reduzir as emissões de gases que afetam a atmosfera e prejudicam nosso planeta. Foi estabelecido um limite para a emissão que teve como resultado o que muitos conhecem como “mercado da poluição”. Ele foi chamado assim porque no caso de um país conseguir reduzir suas emissões de gases abaixo do nível proposto no acordo, poderia vender seus “direitos de emissão” para outros países que precisavam deles e assim aumentariam sua capacidade “aceitável” para gerar poluição. Essa situação ocorreria entre os países menos desenvolvidos, que ao ter menos indústrias vendiam aos países desenvolvidos essas “porções de poluição”.
Todas essas mensagens são pró-droga por causa de seu grau de contradição e, embora existam constantemente campanhas de diferentes governos contra as drogas “psico-bio-neuro-genético-sócio-tóxicas”, as políticas sobre isso também tendem a ser contraditórias e sempre insuficientes, ou seja muito parciais. Não se sustentam pelo tempo necessário para alcançar êxitos significativos.
Agora, pensemos que a maior parte dos países do mundo tem pouco compromisso com relação à pandemia das drogas. Como dizemos sempre, devemos ter em mente que isso simbolicamente se parece com o que o modelo bíblico apresenta como a luta de Davi contra Golias, e, por consequência, devemos continuar trabalhando intensamente e incansavelmente no campo da educação, que é nossa arma mais poderosa.
Observemos o exemplo de países como a Noruega, que fizeram um culto ao cuidado da natureza. Ali testemunhei como três crianças, uma delas com pouco mais de dois anos chamado Elke, saíam de sua casa com um pacote de lixo cada, a menor pegava objetos plásticos de muito pouco peso para colocá-los no recipiente adequado, os outros colocavam os deles no lugar previsto de acordo com o conteúdo. É uma questão cultural, se trabalharmos na conscientização desde a infância, a criança irá se preocupar com sua responsabilidade pelos resíduos.