Investigación Psicológica Sobre Medios - DA SILVA, Maria da Conceição - E-Book

Investigación Psicológica Sobre Medios E-Book

Maria da Conceição, DA SILVA

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Beschreibung

Esta investigación fue realizada en España, en la Universidad de Salamanca y está compuesta por siete partes. Las cuatro primeras partes son de carácter documental y tienen como objetivo ofrecer una visión de conjunto de la problemática de las personas que padecen enfermedad mental. Las partes quinta y la sexta, aluden al marco referencial y también tienen un carácter documental. La séptima parte es el Estudio Empírico.

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Veröffentlichungsjahr: 2024

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A minha mãe

Aparecida com suas orações,

Meu Pai José (in memoriam)

por sempre ter acreditado em mim

AGRADECIMENTOS

Ao Programa de Pós Graduação em Letras da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Unidade de Campo Grande, por oferecer este curso, essencial em minha formação.

A UEMS, Unidade de Campo Grande, que abriu as portas para que eu tivesse acesso aos sujeitos da pesquisa.

Aos sujeitos da pesquisa, que de muito boa vontade, contribuíram com os dados desta pesquisa,sem eles esta pesquisa não existiria.

À minha orientadora querida, Silvane Aparecida de Freitas, que sem a sua paciência e estímulo provavelmente eu não teria chegado até aqui.

A todos os professores da Pós-Graduação em Letras, na Área de concentração: Produção de texto oral e escrito. (Análise do Discurso).

Aos coordenadoras e coordenadores das escolas estaduais que me auxiliaram em minhas ausências, mas em ESPECIAL a coordenadora Eliana do colégio Auxiliadora, mostrando sua competência, pois sempre lutou para que tivéssemos aprimoramento na nossa profissão.

A minha família, pelos momentos que não pude estar com eles para a elaboração dessa dissertação. Em especial minhas filhas; Amanda, Bruna, Camila, e meus netos; Yasmin, Davi, Carolina e Kaick. (meus amores, tudo que faço e sou é para honrá-los)

A minha amiga Elisângela Amaral que acreditou mais em mim, do que eu mesma. E a todos que participaram direta ou indiretamente para a conclusão desse trabalho.

“Sou a favor de cotas, de ações afirmativas,

mas não faço proselitismo. sou partidária da ideia

de que por vezes é preciso desigualar para igualar.”

Lilia Moritz Schwarcz

“Nossas terras são invadidas, nossas terras são tomadas, os nossos territórios são invadidos… Dizem que o Brasil foi descoberto; o Brasil não foi descoberto não, Santo Padre. O Brasil foi invadido e tomado dos indígenas do Brasil. Essa é a verdadeira história que realmente precisa ser contada.”

Marçal Tupã’i, líder Guarani-Nhandeva, no discurso feito ao Papa João Paulo II, por ocasião de sua visita ao Brasil, em 1980

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I - A ANÁLISE DO DISCURSO: CONCEITOS TEÓRICOS

1.1 A Análise do discurso no Brasil

1.2 Linguagem e discurso

1.3. Ideologia

1.4 Interdiscurso, intertextualidade e polifonia: as diversas vozes do discurso

1.5 As questões do sujeito e o processo de formação identitária

1.6 Memória

CAPÍTULO II - A EDUCAÇÃO DOS INDÍGENAS DO BRASIL E AS QUESTÕES DO LETRAMENTO

2.1. A Escola dos indígenas do Brasil: a leiturização indígena em busca do seu protagonismo

2.2 Definição de letramento e leiturização

2.3 A leiturização indígena em busca do seu protagonismo

2.4 Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul - UEMS: a prática das cotas indígenas - contradições e desafios para inclusão

2.5 A Luta pela integração do indígena na sociedade contemporânea

CAPÍTULO III - OS INDÍGENAS EM BUSCA DE QUALIFICAÇÃO

3.1 O indígena: representações de si

3.2 A busca dos indígenas pela formação universitária

3.3 Da superação dos desafios cotidianos, a dificuldade de inclusão até a evasão.

3.4 As novas perspectivas educativas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

REFERÊNCIAS

ANEXOS

Anexo I

Entrevistas

Google Imagens

INTRODUÇÃO

O Estado de Mato Grosso do Sul comporta uma das maiores populações indígenas do Brasil. Por isso a relevância desta pesquisa, em analisar as memórias de leitura de alunos indígenas que ingressaram num curso superior pelo sistema de cotas. Mais precisamente, os que ingressaram nos cursos da Unidade da UEMS de Campo Grande Mato Grosso do Sul. As cotas para o acesso do indígena na Universidade representam a possibilidade de inclusão social, uma vez que acreditam na permanência de sua cultura, mesmo após sua inserção nos meios educacionais e profissionais do “homem branco1”.

É importante ressaltar que a história desses povos, no Brasil, foi construída na égide do massacre físico, cultural e moral, desde a colonização e, por isso, pretendemos pesquisar sobre como se dá o processo de emancipação e inclusão do indígena nesse modelo social, sem que suas características de identidades sejam profundamente afetadas por meio de um processo educacional do branco.

O sistema educacional, para os indígenas, em sua maioria, foi e ainda é a de servir a sociedade hegemônica. Desde os tempos dos jesuítas, nos primeiros letramentos dos indígenas, a educação ministrada visava à conversão religiosa e cultural, inculcar o modelo de vida do branco ao indígena. E esse processo de alfabetização/conversão colaborou não só para um novo modelo de visão de mundo, diferenciada da que ele possuía, a respeito do trabalho e da espiritualidade, mas e principalmente, o sentimento que foi sendo construído por séculos, o da inferioridade, isto é, esse sujeito não era só tratado como inferior, mas foi sendo convencido disso.

Não podemos ignorar que existiram e ainda existem inúmeras atitudes de resistência, por diversos motivos, como, a retirada de suas terras, crenças, valores, língua e também o direito de ser indígena, pleno e consciente do que fizeram e ainda fazem com seu povo e território. Mesmo porque para os indígenas, parafraseando Ribeiro (1997), terra não se compra, não se vende e menos ainda se toma; a terra, para esses sujeitos, seria como o ar, não há como cobrar, pois se constitui como parte integrante da vida. Nesse sentido, não se tem como falar em vida, se parte dela lhe foi confiscada e negociada.

Na atualidade, a compreensão desses povos, para com a cultura dos europeus, tem apenas uma via: a formação educacional básica até a acadêmica; mesmo porque, entre os brancos, existe a exigência do sistema industrial capitalista, que exige o letramento, pois sem ele não existe chance de ascensão econômica e social, e já para os indígenas também tem agregado um outro valor, o de continuar sendo índio. Essas mudanças de vida com a busca do conhecimento é importante para sua inclusão social, que é também uma forma de inclusão de oportunidades para se manter economicamente, já que suas estruturas de subsistência, retiradas direto da natureza, tornaram-se inviáveis devido ao modelo econômico do branco que, por suas técnicas, extrai, manipula e negocia os meios naturais que, anteriormente, pertenciam às várias nações indígenas.

Nesse contexto, os Terena se vêem em um processo que vai além do encontro cultural, o que caracterizou, de fato, em sua historicidade foi a submissão ao dominador europeu, pois nossas etnias, em nosso princípio histórico, encontravam-se vivendo em coletividade sem disputas econômicas ou territoriais aos moldes mercantilistas dos europeus. O choque cultural, isto é, o encontro de valores culturais adversos ainda passa pelo processo de compreensão, pois do mesmo modo que o europeu, não consegue entender uma vida organizada em coletividade, como as de aldeias; para esses povos, a dos europeus e seus descendentes, está desconectada da realidade da natureza, do meio ambiente, mas sobretudo, da humana, pois para sobreviver necessitam da biodiversidade e também do coletivo humano.

Sendo assim, as memórias desses sujeitos indígenas não lhes deixam escolhas: querem permanecer em seu espaço cultivando a terra e valorizando seus costumes e valores, com os quais construíram sua identidade, não conseguem admitir a cultura mecânica capitalista, pois esse sistema econômico-social oprime e segrega os que não conseguem seguir as regras do homem “civilizado”.

Os Terena conseguiram compreender, mediante seus valores, as intenções práticas desse modelo educacional, mas não vêem saída a não ser se entregar ao domínio cultural e ideológico do branco capitalista, ou estão convencidos de que seu modo de viver e sentir, a sua existência já não condiz com sua realidade atual? Ou sentem necessidade de buscar conhecimentos interculturais para sobreviver na sociedade em que o branco domina?

Em meio a tudo isso, notamos que a sociedade também se sente em dívida com o indígena e institucionaliza seu ingresso no ensino superior por meio das cotas. No entanto, por que esses sujeitos sentem dificuldades em usufruir das cotas étnicas destinadas ao seu ingresso e permanência nos cursos superiores?

As discussões provocadas pelas minorias, em especial os povos indígenas, sempre deixaram claro que deveriam considerar o caráter distinto de suas realidades socioculturais, políticas e demográficas educacionais e não somente étnicas. Não devemos esquecer que as cotas existem para minimizar a falta de oportunidade ao acesso à universidade e não que esses povos possuem deficiências cognitivas.

Na atualidade, dentro das escolas, o indígena é visto, geralmente, conforme descrito em narrativas literárias, como “O Guarani”, de José de Alencar, em que o indígena Peri é guerreiro e vive na aldeia em contato próximo e íntimo com a natureza, desconhecendo, totalmente, a vida urbana e civilizada do branco. A partir das ideias postas pela literatura, a sociedade “civilizada” não consegue idealizar um indígena capaz de viver e conviver naturalmente com a vida urbana. Isso também é passado ao próprio indígena, que não se vê incluído, a ponto de lutar como “Peri” para obter seus direitos legais no país.

Nessa perspectiva, o indígena deseja uma formação superior dentro de suas necessidades, visando a atender às demandas da realidade vivida, incluindo projetos e filosofias de sua vida. Isso seria o maior desafio para uma formação superior destinada aos indígenas no Brasil, acreditam alguns deles, que isso os possibilitaria a uma melhor compreensão dos valores do branco.

A realidade nos mostra que os povos indígenas querem ter acesso a um curso superior, a assuntos relacionados ao seu “mundo”, em que possam também ser compartilhados as suas experiências de vida, porquanto não cabe a eles vivenciarem apenas a lógica capitalista e individual do branco, as quais são demonstradas pela sociedade por meio da violência com armas de fogo e da exploração dos desfavorecidos. Mediante o exposto, no transcorrer desta pesquisa, buscamos responder a questionamentos como: “A entrada do indígena na Universidade revela quais sentimentos e atitudes na população indígena?”; “Quais são as memórias de leitura que possuem de suas trajetórias escolares?”; “Que representações esses povos fazem de si, enquanto alunos matriculados pelas cotas em um curso superior da UEMS?”.

Temos como objetivo geral analisar as memórias dos acadêmicos indígenas da etnia Terena, da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul em relação a sua leiturização e a importância no processo de construção de sua identidade e historicidade. Para isso, procuramos entender sua história de leitura, problematizar as representações que o indígena faz da Universidade, de si e do outro, levando em consideração toda situação sócio-cultural-ideológica em que estão inseridos. Como objetivos específicos buscaremos, fundamentos nas teorias do discurso sobre memória discursiva e formação discursiva, imaginário coletivo, dialogismo e condições de produção do discurso, na busca de refletir alguns questionamentos, tais como: Por que o indígena resolve deixar sua etnia e vir para cidade fazer um curso superior? Quais suas aspirações? Ele as encontra? Consegue levar seus propósitos adiante? Quais as dificuldades encontradas ao deixar seu povo e vir para a cidade estudar? Como ele se sente sendo um cotista na UEMS? Quais as representações de si? Quais as representações do outro (professor e colegas de turma)?

Portanto, as pretensões, nesta pesquisa, estão não só na leiturização2 desse sujeito indígena, que se obriga à adaptação para não ser excluído definitivamente de suas terras e de seu “eu” inicial, ou seja, de suas raízes e origem, as quais lhes proporcionaram suas identificações para aquele momento, uma vez que concebemos que o processo identitário não é fixo, mas o define como parte de um grupo. Por isso, pretendemos analisar as memórias dos graduandos indígenas, mesmo porque sabemos que a memória discursiva é o que torna possível a concretização de nossa história.

Sendo assim, o primeiro passo para compreender esse processo educacional dos indígenas está em diferenciá-los dos outros “cotistas”, como os negros, alunos de escola pública, “o pobre”, os deficientes, identificando, em cada um, suas especificidades, suas diferenças. No que se refere ao indígena, observa-se que as distinções entre os preconceitos produzidos pelo racismo ao negro, as deficiências de pré-requisito do aluno de escolas públicas e para com os especiais não fazem parte de sua exclusão. O indígena parece ser transparente, não é visível, para sociedade brasileira. Quando lutam por seus direitos, aí sim, eles são percebidos como um inconveniente, então, a força policial é acionada, de imediato,ou acordos unilaterais são assinados, voltados aos interesses do branco.

Portanto, pesquisar e analisar as memórias do indígena que estuda e estudou na Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul, o que evadiu e o que concluiu, na Unidade de Campo Grande-MS, entender como se deu sua história de leitura, problematizando as representações que o indígena faz da Universidade, de si e do outro, considerando toda situação sociocultural e ideológica em que estão inseridos, será nosso percurso nesta pesquisa.

Partindo dessa construção ideológica, para essas etnias serem ouvidas e vistas, necessitaram das instituições do branco, que as ignorou como sujeito histórico. Esse ranço foi detectado pelos indígenas e sua revolta inconsciente vem à tona ao terem que estudar conceitos que não fazem parte de sua realidade.

Especificamente na parte teórica, além de alargarmos nossos conhecimentos sobre o indígena, buscamos fundamentar teoricamente a memória discursiva, dialogismo e as condições de produção do discurso. Com a pesquisa de campo e a bibliográfica, procuramos entender esse sujeito indígena em seu contexto atual, seus valores e crenças que faz da sua cultura o único meio de subsistência, frente aos desafios colocados pelo branco.

Após a coleta dos relatos, partimos para a análise dos dados coletados, sobre as imagens que eles fazem de si, de suas vidas e do outro no que se refere ao processo de escolarização em nível superior. Sendo assim, produzimos sentidos dos discursos coletados utilizando a base teórica da Análise de Discurso de linha francesa.

Para o desenvolvimento desta pesquisa, selecionamos seis indígenas cotistas, cinco alunos estavam cursando na época da coleta de dados, dentre essas, duas se formaram no final de 2015. Além dessas, temos uma ex-cotista, que evadiu, no ano de 2015, segundo ela, porque perdeu o prazo para a renovação semestral da matrícula, e aí resolveu não voltar mais. Para relatarem seus percursos e experiências do cotidiano como acadêmicos cotistas da UEMS, da unidade de Campo Grande foram selecionados os que se disponibilizaram e se sentiram mais à vontade em nos responderem sobre a trajetória universitária como cotistas.

A princípio nossos estudos partiram dos acadêmicos em curso, para saber como estava sua trajetória como cotistas, se estavam dispostos a continuarem seus estudos, e quais eram as suas dificuldades e facilidades para concluírem ou não a graduação.

Os estudantes indígenas selecionados para nossa pesquisa, foram os que se dispuseram a colaborar desde o princípio da primeira abordagem, até o final dos questionamentos, outros acadêmicos que procuramos para relatarem sobre suas trajetórias estudantis, de leiturização até a universidade, de uma maneira ou outra, foram nos descartando, cada um à sua maneira, os primeiros a se negarem apenas nos ouviram, olharam de canto dos olhos e saíram sem responder nada, alguns outros foram evasivos, disseram que ajudariam, mas depois da primeira conversa quando fomos procurá-los pela segunda ou terceira vez, já não nos atenderam, ligávamos e até conversamos com algumas lideranças, mas mesmo assim não conseguimos mais contato.

Um dos casos que mais chamou nossa atenção foi de uma acadêmica indígena que abandonou a universidade, a princípio atendia nossos telefonemas e até respondia algumas de nossas perguntas, mas no terceiro contato, quando iríamos marcar uma entrevista pessoalmente, a indígena disse categoricamente que as lideranças não permitiam mais que ela se dispusesse a falar sobre sua vida. Após esse fato fomos ouvir alguns amigos e conhecidos da estudante e ficamos sabendo que provavelmente ela tenha usado esse argumento por não querer mais contato, independente das razões da negativa, que aceitamos, as lideranças possuem grande responsabilidade nas relações entre indígena e branco, mas quando interferem procuram justificar suas atitudes.

Pretendíamos recensear, a princípio, o maior número de estudantes possível, mas os que se dispuseram a concluir todo roteiro da pesquisa foram apenas quatro. Esses alunos e ex-alunos indígenas cotistas colaboraram com nosso trabalho das formas mais diversas, respondendo ao questionário por e-mail, nos corredores da universidade, em suas casas na aldeia e até em um campo de futebol. Fomos onde eles se disponibilizaram a nos ouvir e contribuir.

Nesse ínterim, conhecemos alguns familiares, seus costumes, e os poucos territórios demarcados e insalubres que lhes restaram. Consideramos essa amostragem suficiente, devido a qualidade dos relatos e discursos por eles produzidos para nossa pesquisa, pois contém inúmeras vozes, cenários, memórias, silenciamentos, discursos, que serão ao máximo explorados, no intuito de compreendermos a trajetória da vida estudantil dos indígenas entrevistados, e o processo de leiturização, em sua construção histórica identitária, arquivadas em suas memórias.

Para a análise dos dados coletados, utilizamos a perspectiva teórica da Análise do discurso (AD), com isso, por meio do corpus desta pesquisa, em que coletamos a memória/discurso do indígena estudante sob o regime de cotas para indígena da UEMS, problematizamos o discurso produzido, visando compreender as atitudes dos universitários indígenas quanto a sua permanência ou evasão dessas vagas.

Conforme, Amaral (2013, p. 10), “[...] a interpretação que considera as condições de produção de um discurso, sob as teorias de Pêcheux, vem trazendo à tona os possíveis efeitos de sentidos “produzidos” em uma dada formação discursiva.”. Sendo assim, a AD estabelece um processo de interpretação dos dizeres entremeio aquilo que é dito, como um dito conectado à historicidade do seu entorno, composto de outros dizeres.

Nessa busca pelas memórias de leitura, construção e transitoriedade identitária dos indígenas, esse trabalho tem o propósito de compreender, por meio do discurso do acadêmico indígena sul-mato-grossense, sua atual visão de mundo a partir do seu processo de escolarização. A relevância desta pesquisa está no fato de fazer menção às minorias sociais, aos indígenas, os quais compõem uma expressiva participação no Estado do Mato grosso do Sul, em busca de inclusão por meio do ingresso em um curso superior por meio do sistema de cotas.

Para reafirmar a relevância desta pesquisa, fizemos um levantamento das Dissertações e Teses produzidas não só na Linguística, mas também em outras áreas do saber como por exemplo na educação, especialmente, nas pesquisas produzidas no Estado de Mato Grosso do Sul, região e cenário de nosso estudo, as quais destacam a memória/discurso do indígena estudante sob o regime de cotas para indígenas na UEMS. Sobre o assunto, encontramos a Dissertação de Fernando Luís Oliveira Athayde, apresentada em 2010, ao Programa de Pós-graduação em Educação, da universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande, cujo título é “Ações afirmativas, cotas e a inserção de acadêmicos indígenas na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)” sob orientação do Prof. Dr. Antonio Jacó Brand. O objetivo dessa pesquisa foi analisar os indígenas cotistas da UEMS acerca de seu ingresso, permanência e trajetória no meio acadêmico.

Outra dissertação que se destaca sobre a temática é a de Dabel Cristina Maria Salviano, apresentada em 2011, ao programa de Mestrado em Educação da Universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande, com o título “A representação do docente e do acadêmico indígena, com relação às cotas indígenas, no curso de Direito da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul - UEMS - Unidade Universitária de Paranaíba “sob orientação do Prof. Dr. Antonio Jacó Brand”. O interesse desse trabalho está em saber como estão sendo formados os cotistas, sobretudo o cotista indígena dentro do curso de Direito.

Assim como a dissertação de Simone dos Santos França, apresentada em 2014, ao programa de Mestrado em Letras da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul, na unidade de Campo Grande, com o título “O discurso de acadêmicos indígenas cotistas da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) face as cotas e o acesso ao ensino superior” sob orientação da professora Dra. Maria Leda Pinto. Seu objetivo foi analisar os discursos de acadêmicos indígenas cotistas da Unidade Universitária de Campo Grande - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul/UEMS sobre as cotas, a fim de saber como o sistema de cotas atua na constituição da identidade dos Terena e que representações os acadêmicos cotistas Terena têm de si e do outro, o branco, por meio da análise do discurso identitário, principalmente em relação ao acesso e a sua permanência na Universidade, levando-se em conta a posição do sujeito, sua memória/ historicidade/identidade/alteridade e os efeitos de sentidos, pois o nosso faz uma abordagem sobre memórias de leitura dos acadêmicos.

Temos também a dissertação de Elinéia Luiz Paes Jordão, apresentada em 2015, ao Programa de Pós-Graduação em Letras, da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul/UEMS, Unidade Universitária de Campo Grande, com o título “Alfabetização/Letramento de Indígenas Terena: relatos sobre as experiências na aldeia Ipegue” orientada pelo professor Dr. José Antonio de Souza. Esse trabalho contribuiu para refletirmos sobre as memórias de leitura/alfabetização nas escolas das aldeias Terena.

Finalizando a questão da arte, temos a tese de doutorado de Maria José de Jesus Alves Cordeiro, apresentada em 2008, ao programa de doutorado em Educação – pela Pontifícia Universidade Católica - PUC/SP, intitulada “Negros e Indígenas cotistas na Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul: desempenho acadêmico do ingresso à conclusão do curso”, sob orientação do Prof. Dr. Alípio Márcio Dias Casali, com o objetivo de identificar e analisar o que ou a quem se atribui o sucesso ou insucesso acadêmico dos cotistas, do ingresso à formatura.

Lendo esses trabalhos observamos vários aspectos por nós também salientados, mas nossa pesquisa possui o diferencial de compreender e analisar, numa perspectiva discursiva as memórias dos indígenas que se dispuseram a colaborar, os quais são ou foram acadêmicos da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul, na Unidade de Campo Grande Mato Grosso do Sul, entender como se deu sua história de leitura, problematizar as representações que o indígena faz da Universidade, de si e do outro, levando em consideração toda situação sócio-cultural-ideológica em que estão inseridos.

Assim sendo, o maior diferencial desta pesquisa em relação às aqui citadas é o fato de investigarmos o processo de alfabetização/letramento de indígenas Terena, por meio de narrativas coletadas desses sujeitos. Mediante o exposto, no primeiro capítulo, abordaremos autores que desenvolveram estudos sobre os conceitos de discurso, identidade, ideologia, memória discursiva e construção histórica, procurando subsidiar a análise dos dados, que será na perspectiva teórica da Análise do Discurso de orientação francesa.

No capítulo dois, desenvolveremos os fatos históricos que compuseram a formação escolar do indígena, mas também o papel da instituição escola no Brasil, como um dos Aparelhos ideológicos do Estado, para o estabelecimento do poder dominante, nas questões educacionais regulares até os cotistas atuais indígenas, no campo da federação até a regionalidade, destacando a Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul.

No capítulo três, após coleta das entrevistas com os sujeitos indígenas, desenvolvemos a análise dos dados coletados, segundo os preceitos da Análise de Discurso, oportunidade em que problematizamos o discurso dos sujeitos desta pesquisa, com o fito de entender como se deu o processo de escolarização desses sujeitos na UEMS. Para isso, analisamos as regularidades presentes no discurso dos sujeitos desta pesquisa, as tensões, as dúvidas nessa interação e os seus árduos desafios, mesmo porque a inclusão não se faz só com leis, sobretudo, nos grupos sociais, as quais demandam transformações culturais.

Entendemos que a busca dos indígenas pela qualificação universitária aumenta a cada dia os índices sobre os reais interesses, que pode ser para uma melhor assimilação na sociedade capitalista, e/ou especializar-se para a manutenção do seu protagonismo, ou seja, buscar uma formação para preservar o modelo de vida cultural indígena e a superação dos desafios discriminatórios cotidianos, em novas perspectivas educativas sem dificuldade da inclusão que o leva a evasão.

1 Hall, (2002), Com Hall estamos utilizando o termo “branco” para todos aqueles que não se auto declara índios.

2 A “leiturização” segundo Foucambert, (1994) é um processo pautado na aproximação dos estudantes com a escrita literária )que foi apontada como sendo a solução, um processo eficaz de alfabetização e de precaução quanto ao analfabetismo funcional. (Foucambert, 1994)